10 junho, 2016

"Istambul" - Orhan Pamuk

“Quem quer dar um sentido à sua existência interroga-se também, pelo menos uma vez na vida, sobre a situação e a época em que nasceu. O que significa nascer em certo lugar do mundo e em determinado momento da História? A família, o país, a cidade que nos são atribuídos como um bilhete de lotaria, que nos pedem que amemos e que acabamos por amar na maior parte das vezes, serão fruto de uma partilha equitativa? Por vezes, ao ver as reínas e as cinzas do Império Otomano, sinto que tive azar em nascer em Istambul, em nascer nesta cidade a envelhecer num ambiente de derrota, de miséria e de tristeza. (Porém, uma voz dentro de mim diz-me que não, que isso, na realidade, é uma sorte.) No que toca a riqueza, acontece-me pensar às vezes que tive sorte em nascer numa família abastada de Istambul (embora haja quem diga o contrário). A maior parte do tempo, contudo, penso que Istambul, o lugar onde nasci e onde passei toda a minha vida, faz parte do meu destino – tanto como o meu corpo (se ao menos pudesse ter os ossos um pouco mais largos e fosse um pouco mais bonito…) e o meu sexo (a minha sexualidade dar-me-ia menos problemas se eu fosse mulher?), coisas de que acabei por me convencer que não devia queixar-me – e que fazendo parte do meu destino, não pode ser posto em questão. Este livro é sobre esse destino...”
Nasci a 7 de Junho de 1952… em Istambul.

Istambul” cruza a história (da família Pamuk) com a História (da Turquia).
É o relato intimista, autobiográfico, sem filtros, da infância, adolescência e primeiros anos da idade adulta do autor, na cidade onde nasceu e sempre viveu.
É o relato do quotidiano no Edifício Pamuk (a minha mãe, o meu pai, o meu irmão mais velho, a minha avó paterna, as minhas tias, os meus tios e respectivas mulheres: vivíamos todos juntos, espalhados pelos cinco andares do prédio), onde não faltavam pianos, que ninguém tocava; dos passeios à beira do Bósforo, no Dodge modelo 1952, conduzido pelo pai; das estranhas ausências dos progenitores - Por vezes, o meu pai ia para longe… o meu irmão e eu sentíamos que não devíamos fazer perguntas… Na verdade, por vezes a minha mãe também desaparecia.
É o retrato de Istambul, cidade grande, bela, triste e derrotada, a ocidentalizar-se sobre as glórias imperiais mortas e enterradas. Um lugar familiar, com  a sua memória, a sua geografia e as suas mesquitas, e, ao mesmo tempo, é um mundo sem igual, único e por isso mesmo extraordinário.
A complementar a perfeita narrativa cronológica, mais de duzentas fotografias "mostram" a família Pamuk, a fascinante Istambul, o movimentado Bósforo. Sempre o Bósforo. Tudo a preto e branco. Tudo luminoso.
Istambul” é um enternecedor e inteligente livro de memórias, um documento histórico, que nos prende da primeira à última página.
Memórias escritas. Memórias mostradas.
Istambul” lê-se e vê-se. Não se conta.
Acredite!

Istambul, de Orhan Pamuk, Prémio Nobel da Literatura, 2006
Tradução de Filipe Guerra
Ed. Presença, 2008
365 págs.

Visitei a Turquia, em 2009.
No regresso, escrevi no meu blogue http://fugasreveladas.blogspot.pt/:
"Viagem de férias à Turquia com visita a Istambul, Ancara, Capadócia, Konya, Pamukkale, Éfeso, Izmir, Pergano, Tróia e Çanakkale.
País com um riquissimo património histórico, uma diversidade geográfica impressionante, um contraste entre o antigo e o moderno admirável, um povo simpático e hospitaleiro, foi um destino de férias espectacular.
Em Istambul destaco a visita ao Palácio Topkapi (antigo centro de poder do Império Otomano), a Mesquita Azul (lindíssima com os seus azulejos azuis de Iznik, os minaretes, as cúpulas, um dos edifícios religiosos mais famosos do mundo), a Igreja de Santa Sofia (magnífico monumento bizantino com mais de 1400 anos, foi no século XV convertido em mesquita), o Mercado das Especiarias, o Grande Bazar (um labirinto de ruas com mil e uma lojas repletas de produtos tentadores e lojistas alvoraçados onde apetece voltar sempre, sempre, e comprar tudo, tudo), o Circuito do Bósforo (uma vista deslumbrante de Istambul e dos velhos monumentos), o tráfego constante, o desfrute dos inúmeros espaços verdes, a cozinha apetitosa, etc., etc."
Visite também e deslumbre-se!

2 comentários:

  1. Istambul e o Meu Nome é Vermelho estão na minha wishlist. Gostei da opinião e das fotos. A viagem também está no meu horizonte. :)

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  2. Gostei imenso do livro de Pamuk sobre Istambul. É bem mais que um roteiro.

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