Só quem peca se purifica.
Publicado em 1930, este é o terceiro romance de Sándor Márai (o mestre das paixões), autor do aclamado “As velas ardem até ao fim”. (Se ainda não leu, leia).
Neste romance o tema principal não é o amor, é a amizade. Aqui não há um triângulo amoroso, há um bando de rapazes, revoltados contra tudo e a tudo dispostos.
O que os une?
É muito difícil dizer o que aglutina as pessoas, especialmente na juventude, quando os interesses ainda não tecem as amizades.
A história conta as aventura e desventuras do bando, num enredo de erros e fúrias, cumplicidades e traições, sofrimentos e cobardia – de inconfessáveis atracções e de ambíguas repulsas, no final da I Guerra, numa pequena cidade húngara, longe da frente.
Enquanto esperam pelo dia em que terão de vestir a farda e partir para o turbilhão da guerra, entregues a si próprios, os rapazes distraem-se com brincadeiras, jogos, leituras, representação de histórias, passeios.
Com os pais longe, a combater, eles são livres, independentes, sem limites.
Nos primeiros tempos, não precisavam de dinheiro para as brincadeiras. A questão do dinheiro só surgiu quando a realização de certas experiências e iniciativas veio exigir recursos cada vez mais complexos.
Béla foi o primeiro a roubar. Roubou dinheiro da caixa do pai…
Muitos roubos depois… alugam um espaço, um esconderijo, fora do perímetro de acção dos pais, professores, autoridades.
Ali começam a conhecer-se e unem-se numa cumplicidade secreta, feita de descobertas, excessos, segredos, mentiras, intrigas e brincadeiras perigosas.
Ali libertam os demónios da sua revolta contra o mundo.
Ali experimentam tudo, confessam tudo, falam de tudo - nunca da guerra, isso deixam para os adultos
Esse foi o tempo das brincadeiras a sério. Essa foi a segunda infância, mais consciente da culpa, mas sem limites, mais excitante e mais doce.
Já o bando se consolidara quando Amadé - o actor - chega à cidade. É o dançarino cómico da companhia. Tem quarenta e cinco anos. Tem barriga e papada. Usa peruca. Tem a cabeça de um cavalo. Tem a mandíbula saliente. É míope. Não joga às cartas. Usa dois anéis nos dedos carnudos.
O actor vivia os movimentos verdadeiros da vida apenas quando representava; tal como eles sentiam mais verdadeira do que qualquer realidade a própria vida escondida por trás da realidade.
Certo dia os rapazes conhecem o actor. Logo na primeira hora ele propôs que se tratassem por tu. Duas semanas depois convidou-os para sua casa. Conquista-os com festas teatrais divertidas. Entra para o bando.
Quem é ele? O que pretende deles? Em que perversas tramóias os vai meter? Será trágico o fim do bando?
"Rebeldes" é um romance perturbador. Recomendo-o a adolescentes...
Os senhores… não conhecem ainda a vida. Aprende-se devagar.
... e a adultos, claro!
Rebeldes, de Sándor Márai
Tradução de Ernesto Rodrigues
Ed. Dom Quixote, 2008
239 págs.
Sem comentários:
Enviar um comentário