09 maio, 2014

"Os níveis da vida" - Julian Barnes

Todas as histórias de amor são potenciais histórias de dor. Se não no princípio, depois. Se não para um, para o outro. Às vezes para ambos.
Então por que aspiramos continuamente a amar? Porque o amor é o ponto onde se encontram a verdade e a magia.
Bem, fiquei completamente aturdida com a leitura deste livro de Julian Barnes, sobre juntar duas coisas ou duas pessoas e depois separá-las.
O romance está dividido em três partes. Estranham-se as duas primeiras - sobre o balonismo no séc. XIX - mas quando chegamos à terceira, ao impressionante testemunho do autor sobre amor, dor, morte, luto, compreendemos a ligação entre as três partes.
1ª - O pecado da altitude
Juntamos duas coisas que ainda não se tinham juntado. E o mundo transforma-se.
O mistério e a magia de voar num balão, de desafiar a gravidade dentro de um cesto.
Numa mistura perfeita de realidade e ficção, Julian Barnes escreve sobre homens e mulheres que num balão visitaram o espaço de Deus e descobriram uma paz que estava para além da compreensão.
O balonista, inventor e fotógrafo Félix Tournachon (Nadar), juntou, em 1958, duas coisas que ainda não se tinham juntado – fotografia (verdade) e o balonismo (magia) - e o mundo transformou-se.
2ª – Ao nível
Juntamos duas pessoas que ainda não se tinham juntado; e às vezes o mundo transforma-se, outras vezes não.
A paixão do inglês Fred Burnaby pela inconstante actriz francesa Sarah Bernard. São ambos balonistas, boémios, viajantes, livres e desprendidos.
Case comigo. Case comigo. Propunha ele.
Eu não sou feita para a felicidade. Pense que sou uma pessoa incompleta. Respondia ela.
Madame Sarah, somos todos incompletos. Eu também sou incompleto. Por isso procuramos outra pessoa. Para nos completar.
Não resultou.
3ª – A perda de profundidade
Juntamos duas pessoas que ainda não se tinham juntado.
Então, a dada altura, mais cedo ou mais tarde, por esta ou aquela razão, um deles é levado. E aquilo que é levado é maior do que a soma do que lá estava.
O testemunho do autor  sobre o seu amor por Pat (Pat Kavanagh, sua agente literária durante quarenta anos), a mulher com quem casou em 1979 e viu partir em 2008, vítima de cancro.
Em tom intimista, Barnes conta como "sobreviveu" à perda, ao desgosto, à solidão, às lágrimas, à tentação do suicídio, à imensa dor.
A dor mostra que não esquecemos; a dor realça o sabor da memória; a dor é uma prova de amor.
Impressionante! Brilhante!
Mais não escrevo, porque esta "prova de amor" merece ser lida. Por todos.
A sério!
 
Os níveis da vida, de Julian Barnes
Tradução de Helena Cardoso
Ed. Quetzal, 2013
109 págs.

2 comentários:

  1. Li este livro há algum tempo e escrevi aqui sobre ele. É absolutamente magnífico.

    http://www.dagenteinutil.blogspot.pt/2014/01/apologia-amorosa.html

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    1. Olá Vicente,
      Concordo. É um livro magnífico.
      Espreitei o seu espaço e gostei. Vou voltar.

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