07 junho, 2013

"A Caverna" - José Saramago

Penso que as palavras só nasceram para poderem jogar umas com as outras, que não sabem mesmo fazer outra coisa, e que, ao contrário do que se diz, não existem palavras vazias.
É isso que Saramago faz em mais este romance - joga com as palavras, como só ele sabe fazer.
A história é sobre o impacto de um Centro Comercial (A CAVERNA) na vida de gente simples: Cipriano Algor (oleiro de profissão), a filha Marta (a filósofa do tempo e dos sentimentos, que o ajuda na olaria), o genro Marçal Gacho (guarda no centro), a vizinha Isaura Estudiosa (depois Isaura Madruga) e até em Achado, o cão que iluminou a vida do oleiro.
Cipriano Algor é viúvo, tem sessenta e quatro anos e vive com a filha e o genro na casa ao lado da olaria, onde já o seu avô trabalhou o barro. É da olaria que Cipriano tira o seu sustento. Com a ajuda da filha, produz louça em barro que vende ao Centro.
A história começa precisamente com a entrega de um carregamento de louça no Centro. Desta vez corre mal. Cipriano é informado que as vendas dos seus produtos diminuiram e que, por essa razão, ele só descarregaria metade da nova encomenda; que não pretendiam mais louça artesanal (a preferência dos clientes ia para os artigos de plástico, mais baratos); que iriam devolver-lhe a louça acumulada no armazém, louça que ele estava proibido de vender a outros comerciantes da cidade.
É no Centro que trabalha o genro Marçal. É um dos guardas do enorme edifício - uma cidade dentro de outra cidade - onde milhares de pessoas vivem, trabalham, compram, divertem-se, num ambiente sufocante de janelas fechadas e luz artificial e sempre vigiados por guardas e câmaras de vídeo.
Mais tarde, Marçal será promovido a guarda residente e irá viver para o Centro com Marta… e Cipriano Algor, o oleiro.
Mas, como isso só acontece lá para o fim da história, volto a Cipriano, o oleiro alarmado com o que acabou de ouvir, que regressa a casa com a furgoneta meio cheia de louça, que decide enterrar todas as peças num buraco, que desabafa com a filha sobre os seus medos do futuro.
Mas, o futuro tardará e é no presente que ele vai receber... dois presentes.
O primeiro esperava-o à porta de casa, tinha quatro patas e chamar-lhe-á Achado.
O segundo, encontrou-o à saída do cemitério, depois de protestar diante da sepultura da mulher (Justa Isasca) que não é justo, Justa, o que me fizeram, rirem-se do meu trabalho e do trabalho da nossa filha, dizem eles que as louças de barro deixaram de interessar, que já ninguém as quer, portanto também nós deixámos de ser precisos, somos uma malga rachada em que já não vale a pena perder tempo a deitar gatos… e se cruzou com uma mulher vestida de negro que lhe diz, Amanhã lá vou comprar um cântaro, mas oxalá seja melhor do que este, que se me ficou a asa dele na mão quando o levantei, desfez-se em cacos e alagou-me a cozinha toda. Cipriano responde de imediato, Escusa de ir à olaria, eu levo-lhe um cântaro novo… não tem de pagar, é oferta da fábrica.
Isto bastou para Cipriano deixar de pensar em decepções de não ganhar nem em medos de vir a perder.
Antes de ir viver com a filha, grávida (outro presente), e o genro para o Centro, Cipriano embarca numa nova aventura: fabricar bonecos. Bonecos de barro, com a forma humana, que exigiam uma nova técnica de modelação do barro. A ideia foi da filha. Cipriano hesitou mas logo de seguida, Por onde começamos, perguntou, Por onde sempre há que começar, pelo princípio, responde Marta.
E chegou o dia de Cipriano ir viver com Marta e o genro para o Centro. O Centro onde será enclausurado, sem ver o sol nem as estrelas, longe do amigo Achado e do amor de Isaura. Será por pouco tempo. Isto porque Cipriano, agora não o oleiro mas o investigador, descobrirá por conta própria numa CAVERNA (o mito da caverna de Platão?!) aberta no subsolo do Centro um segredo aterrador.
O que se segue?
 
De todos os romances de Saramago que já li, este foi o que menos me agradou. Achei-o aborrecido, desinteressante e maçudo.
Não desisti, mas pouco faltou. Porquê?
Há coisas que são tanto aquilo que são, que não precisam que as expliquemos.
 
A Caverna, de José Saramago
Ed. Caminho, 2000
350 págs.

4 comentários:

  1. De quando em vez os sábios

    dão às coisas
    apenas o nome que elas são

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    1. Se bem entendi a tua mensagem, concordo contigo e com o sábio.

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  2. Pois olha...para mim só perde para "Todos os nomes". A Caverna é sufocante, sombria, fantástica. Livro sensacional. Mas "de gustibus et coloribus non est disputandum". Portugal deve sentir-se orgulhoso de Saramago : duas joias.

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    1. Olá Ivo,
      Ainda não li "Todos os nomes" mas agora fiquei curiosa...
      Obrigada pelo comentário.
      Viva a liberdade de opinião.

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