O mar é igual por todos os lados.
É mesmo verdade que este naufrágio aconteceu? Sim, como esclarece o autor no início do livro, ao contar “a história desta história”.
Mas, há livros que não são de quem os escreve, mas de quem os sofre, e GGM dá a palavra a Luis Alejandro Velasco, vinte anos, único sobrevivente do naufrágio, para que relate minuciosamente como tudo se passou.
Perguntam-me como é que se sente um herói. Nunca sei o que responder. Pela minha parte, eu sinto-me o mesmo que antes. Não mudei nem por dentro nem por fora.… estive dez dias sem comer nem beber numa balsa.
Tudo aconteceu em Fevereiro de 1955. O contratorpedeiro “Caldas”, da Marinha de Guerra da Colômbia, regressava ao porto colombiano de Cartagena, depois de oito meses em reparações no porto de Mobile - Alabama, Estados Unidos.
Regressava com a tripulação e carregado de contrabando, como fogões, frigoríficos, máquinas de lavar
A duas horas da chegada a Cartagena, uma tempestade no mar das Caraíbas, provoca o desastre: ondas altas e fortes fazem adornar o navio para estibordo e varrem o convés, atirando para o mar oito marinheiros e grande parte da carga amontoada na proa.
O navio, ainda com excesso de peso, não pôde manobrar para resgatar os marinheiros do mar e seguiu viagem para Cartagena.
Iniciaram-se as buscas. Quatro dias depois, os marinheiros foram declarados oficialmente mortos, numa tempestade - que nunca existiu.
Iniciaram-se as buscas. Quatro dias depois, os marinheiros foram declarados oficialmente mortos, numa tempestade - que nunca existiu.
Mas... numa balsa à deriva no mar, Luis Alejandro Velasco sobrevive.
Sobrevive a dez dias de solidão, desespero, fome, sede, “encontros” diários com tubarões, muito mar e muito céu.
… cada vez que o ânimo esmorecia, acontecia qualquer coisa que fazia renascer a minha esperança. Nessa noite foi o reflexo da Lua nas ondas.
Finalmente, um dia o náufrago solitário vê terra, e não é uma ilusão. É uma praia deserta no norte da Colômbia.
Desesperado, nada para terra. Esgotado, procura socorro. Torna-se num herói nacional e é condecorado.
Mas a sua versão da história não agrada ao governo (uma ditadura militar) e é em terra que Velasco irá viver a maior das tormentas.
Algumas pessoas dizem-me que esta história é uma invenção fantástica. Eu pergunto-lhes: então, o que é que eu fiz durante dez dias no mar?
O relato dos factos foi recolhido por GGM, no jornal onde trabalhava, e publicado em fascículos assinados pelo náufrago. Rapidamente se transformou em denúncia política. Custou a glória ao náufrago, o encerramento do jornal e o exílio ao repórter.
Quinze anos depois, GGM narra, como só ele sabe, esta aventura com sabor a sal.
Saboreei!
Relato de um náufrago, de Gabriel García Márquez
Edições Asa, 1995
Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra
124 págs.
E pior é pensar que mais de 50 anos depois desde naufrágio, gente pobre continua a morrer no mar, como é o caso dos africanos de tentam chegar à Europa.
ResponderEliminarGostei imenso deste livro do GGM. Ninguém sabe contar uma história como ele! A tua opinião deixou-me com vontade de ler alguma coisa dele... :)
ResponderEliminarOlá!
EliminarEu cada vez gosto mais da escrita de GGM. Agora, ando perdida de amores pel' "A incrível e triste história da cândida Eréndira e da sua avó desalmada". O título (grande) é uma das sete histórias curtas de mais um livro (este pequenino) do escritor.
Bjs.