18 janeiro, 2013

"O homem em busca de um sentido" - Viktor R. Frankl


No início deste ano, a minha filha, deu-me duas belíssimas prendas: aparecer de surpresa no dia da passagem de ano para estar connosco dez dias (ela vive em Inglaterra) e este pequeno/grande livro sobre a perda, o sofrimento, a coragem, a descoberta de um novo sentido para a vida, o relato de experiências vividas por milhões de prisioneiras nos campos de concentração nazis, contadas por um sobrevivente.
Esse sobrevivente é Viktor E. Frankl, um brilhante psiquiatra austríaco judeu, que em 1942 perde tudo: a carreira profissional, os pais, o irmão, a mulher, grávida do primeiro filho. Foram deportados para campos diferentes. Ele foi para Auschwitz. Só ele sobreviveu a três anos de verdadeiro terror. Depois da libertação, em 1945, edita este livro/testemunho e dá um novo rumo à sua vida, ao desenvolver e divulgar a Logoterapia.
Como esta história é sobre as minhas experiências enquanto preso vulgar, é importante que refira, não sem certo orgulho, que não fui empregado como psiquiatra no campo, nem mesmo como médico… eu era o número 119.104 e passava a maior parte do tempo a cavar e a colocar carris para linhas férreas.
Trata-se, pois, de uma narrativa autobiográfica, e está dividida em duas partes:
- a primeira parte é o relato da vida nos diversos campos por onde passou.
São histórias dramáticas de desespero, fome, cansaço, tristeza, sofrimento, maus tratos, de extermínio de seres humanos.
Mas são, também, histórias emocionantes de sobrevivência, coragem, partilha, amizade, de busca nas memórias felizes de amarras para a vida.
O meu espírito continuava agarrado à imagem da minha mulher. Um pensamento atravessou-me o espírito: nem sequer sabia se ela ainda estava viva. Só sabia uma coisa – que nessa altura já tinha aprendido bem: o amor vai muito para além da pessoa física do ser amado.
- a segunda parte é uma síntese da doutrina terapêutica desenvolvida por Viktor E. Frankl em Auschwitz - a Logoterapia.
Frankl percebeu que, a tanto sofrimento nos campos de concentração nazis, apenas sobreviviam aqueles que tinham uma razão para continuar a viver.
O preso que perdesse a fé no futuro - o seu futuro - estava condenado. Ao perder a crença no futuro, perdia igualmente o controlo espiritual; deixava-se decair e ficava sujeito a um definhamento físico e mental.
V.E. Frankl ajudou-se a si próprio, recorrendo às memórias da mulher que amava, ao desejo de reescrever o manuscrito sobre a sua doutrina (o original foi confiscado em Auschwitz) e à antevisão da sua divulgação em palestras por todo o mundo.
E citei Nietzsche: “Was mich nicht umbringt, macht mich stärker” (Aquilo que não me mata torna-me mais forte”.
P.S. Obrigada, filhota. Com este testemunho aprendi a  nunca desistir.
O homem em busca de um sentido, de Viktor E. Frankl
Tradução de Francisco J. Gonçalves
Lua de papel, 2012
159 págs.

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