2 de Novembro
Fui cordialmente convidado para fazer parte do realismo visceral. Evidentemente, aceitei. Não houve cerimónia de iniciação. Antes assim.
3 de Novembro
Não sei bem em que consiste o realismo visceral. Tenho dezassete anos, chamo-me Juan Garcia Madero…
É em jeito de diário que começa este “pesado” romance, de 512 páginas. Um pesado, mas poderoso romance sobre os meandros da literatura, particularmente da poesia mexicana. E, digo-o já, muitíssimo bem escrito.
Os poetas mexicanos (suponho que os poetas em geral) detestam que se lhes relembre a sua ignorância.
Os poetas mexicanos (suponho que os poetas em geral) detestam que se lhes relembre a sua ignorância.
Confesso que não foi uma leitura fácil. Parei por diversas vezes, voltei, parei de novo, voltei e terminei. Ufa!
O romance está dividido em três partes.
A primeira e a terceira partes são o diário de Garcia Madero, órfão, estudante de Direito, leitor e escritor compulsivo de poesia. Um diário recheado de descobertas literárias (todos os livros do mundo estão à espera que eu os leia), discussões à volta dos poetas mexicanos (…há que mudar a poesia mexicana. A nossa situação é insustentável, entre o império de Octávio Paz e o império de Pablo Neruda. O que equivale a dizer: entre a espada e a parede), leitura de poesia (a poesia… é assim: deixa-se pressentir, anuncia-se no ar, como os terramotos), muitas faltas às aulas, deambulações por cafés, conversas infindáveis, roubo de livros, tráfico de marijuana, experiências sexuais, amores, mortes, assassinatos, fugas e muito, muito humor.
Madero inicia o diário meses antes da partida para o deserto de Sonora com os poetas Arturo Belano e Ulisses Lima, os detectives selvagens, em busca dos verdadeiros real visceralistas e de pistas sobre o misterioso desaparecimento (político?) da poetisa Cesária Tinajero, logo a seguir à Revolução.
Será uma viagem tumultuosa, de consequências trágicas, que obrigará Arturo Belano e Ulisses Lima a fugir do país.
Essa fuga errática, de duas décadas, constitui a segunda parte do romance (341 págs.), e é composta por histórias desconcertantes sobre Belano e Lima - os dois poetas desesperados, fundadores do “real visceral” -, contadas por 52 excêntricos personagens, que com eles se cruzaram em locais longínquos como Israel, África, Espanha, França, Estados Unidos.
Há escritores aziagos, azarentos, dos quais mais vale fugir, pouco importa que se acredite ou não na má sorte, pouco importa que seja positivista ou marxista, dessa gente há que fugir como da peste negra.
Eu não fugi deste ENORME Bolaño, e ainda bem.
23 de Dezembro
Hoje não se passou nada. E, se alguma coisa se passou, o melhor é nem falar nisso, porque não percebi nada.
Mentira!
Os detectives selvagens, de Roberto Bolaño
Ed. Teorema, 2008
Tradução de Miranda das Neves
512 págs.
Fiquei de pé atrás com o escritor quando li o "O terceiro Reich" e sinceramente não sei se lhe darei uma segunda oportunidade mas é bom saber que há livros dele interessantes.
ResponderEliminarEntendo-te perfeitamente.
ResponderEliminarEu deste romance gostei (mas foi complicado!)e não sei se voltarei a Bolaño.
A ver vamos...
Tenho sentimentos mistos relativamente a Bolaño. Li o 2666 e, a verdade é que gostei bastante do livro. Gostei muito da escrita, mas é um livro tão grande, não só pelo nº de páginas, que senti que não tinha "bagagem" para apreender tudo o que ele quis dizer... Daí nunca mais ter pegado noutro livro dele. Acho que ainda não estou preparada para eles. :)
ResponderEliminarFaço minhas as tuas palavras.Ler Bolaño é complicado.
EliminarTenho 2666 mas... não sei quando lhe pegarei.
Bjs.