Já passaram muitos anos sobre a minha primeira leitura desta obra de Kafka. Por isso, achei que era altura de voltar a esta surpreendente parábola sobre a alienação humana, sobre o absurdo da vida, para a divulgar no meu rol.
Quando Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho agitado viu que se transformara, durante o sono, numa espécie monstruosa de insecto.
É assim que começa a mais conhecida e estudada obra de Kafka, publicada em 1915, escrita em apenas três semanas, tinha ele 29 anos.
Dificilmente encontramos na literatura um primeiro parágrafo com a força deste. Concorda?
Vamos à história.
Gregor Samsa é solteiro,caixeiro-viajante e vive com os pais e uma irmã, de dezassete anos.
Não gosta da sua profissão, muito menos da companhia onde trabalha, e ainda menos do patrão, avarento e insensível, mas cumpre rigorosamente as suas obrigações laborais, para sustentar a família e pagar as dívidas do pai.
É apenas isso que o move: trabalhar arduamente, para garantir o sustento e a tranquilidade da família.
Certo dia, Gregor acordou às seis e meia da manhã. Não ouviu tocar o despertador às quatro horas, nem apanhou o comboio das cinco, como fazia diariamente.
Entra em pânico. Tem de apanhar o comboio das sete horas. Tem de chegar rapidamente à companhia. Tem de evitar a cólera do patrão. Tem de conservar o emprego. Tem de sustentar a família. Tem de manter a tranquilidade do lar. Tem de se levantar da cama… mas não consegue.
Não consegue, porque durante o sono se transformou num enorme insecto com numerosas perninhas, em perpétua vibração, sobre as quais não exercia controlo algum.
Através da porta, fechada à chave, os pais gritam para que ele se levante e vá apanhar o comboio
O gerente da companhia vai lá a casa saber o motivo do atraso, e pergunta: Que lhe aconteceu? O senhor fecha-se no quarto … aflige desnecessariamente os seus pais e descuida os seus deveres profissionais de uma maneira inaudita!
Depois de muitas tentativas, Gregor levanta-se da cama, mas cai no chão e fere a cabeça.
O barulho da queda foi ouvido do outro lado e o pai manda chamar um serralheiro e um médico.
Gregor decide abrir a porta para saber que impressão causaria àquela gente, que tão imperiosamente exigia a sua presença. Apoiado nos móveis, chega à porta, roda a chave na fechadura, e…
… o gerente, fora de si, foge; a mãe, desfalecida, grita por socorro; o pai urra como um selvagem, enxota-o com uma bengala, obriga-o a voltar para o quarto e fecha a porta à chave, com violência.
O serralheiro deixou de ser necessário. O médico foi esquecido
Grete, a irmã, foi vê-lo apenas na manhã seguinte, mas foi tomada de incontrolável terror e fugiu apressadamente. Volta, para empurrar o prato com comida para dentro do quarto. Por vezes entra, e Gregor, para ela não se assustar, esconde-se atrás dos móveis. A criada também entra, para limpar o quarto. Os pais, esses não entram.
O mundo de Gregor desmorona, dentro de quatro paredes: despedido da companhia (sendo ele um empregado exemplar), abandonado e desprezado pela família (que o vê apenas como um insecto repugnante), ferido e cada vez mais fraco.
Através da porta, ele escuta a rotina da família, e pensa, embevecido: Que vida tranquila tem levado a minha família…
Mas, chega o dia em que a família tem de ganhar o seu sustento.
E chega também o dia, em que a família começa a pensar num meio de se livrar daquela “coisa” repugnante, que só lhes dá trabalho e despesa.
Precisamos de livrar-nos dessa coisa! … É a única saída.
O que se segue?
Um fim trágico, claro!
Leia para saber. Aliás, não ler esta história é imperdoável.
Acredite, que não mais esquecerá a transformação física de Gregor (que ele nunca percebeu mas lhe possibilitou a fuga à opressão profissional e familiar) e a transformação comportamental da sua família.
Metamorfose, de Franz Kafka
Ed. Livros do Brasil, 2007
Tradução de Breno Silveira
108 págs.
Quando Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho agitado viu que se transformara, durante o sono, numa espécie monstruosa de insecto.
É assim que começa a mais conhecida e estudada obra de Kafka, publicada em 1915, escrita em apenas três semanas, tinha ele 29 anos.
Dificilmente encontramos na literatura um primeiro parágrafo com a força deste. Concorda?
Vamos à história.
Gregor Samsa é solteiro,caixeiro-viajante e vive com os pais e uma irmã, de dezassete anos.
Não gosta da sua profissão, muito menos da companhia onde trabalha, e ainda menos do patrão, avarento e insensível, mas cumpre rigorosamente as suas obrigações laborais, para sustentar a família e pagar as dívidas do pai.
É apenas isso que o move: trabalhar arduamente, para garantir o sustento e a tranquilidade da família.
Certo dia, Gregor acordou às seis e meia da manhã. Não ouviu tocar o despertador às quatro horas, nem apanhou o comboio das cinco, como fazia diariamente.
Entra em pânico. Tem de apanhar o comboio das sete horas. Tem de chegar rapidamente à companhia. Tem de evitar a cólera do patrão. Tem de conservar o emprego. Tem de sustentar a família. Tem de manter a tranquilidade do lar. Tem de se levantar da cama… mas não consegue.
Não consegue, porque durante o sono se transformou num enorme insecto com numerosas perninhas, em perpétua vibração, sobre as quais não exercia controlo algum.
Através da porta, fechada à chave, os pais gritam para que ele se levante e vá apanhar o comboio
O gerente da companhia vai lá a casa saber o motivo do atraso, e pergunta: Que lhe aconteceu? O senhor fecha-se no quarto … aflige desnecessariamente os seus pais e descuida os seus deveres profissionais de uma maneira inaudita!
Depois de muitas tentativas, Gregor levanta-se da cama, mas cai no chão e fere a cabeça.
O barulho da queda foi ouvido do outro lado e o pai manda chamar um serralheiro e um médico.
Gregor decide abrir a porta para saber que impressão causaria àquela gente, que tão imperiosamente exigia a sua presença. Apoiado nos móveis, chega à porta, roda a chave na fechadura, e…
… o gerente, fora de si, foge; a mãe, desfalecida, grita por socorro; o pai urra como um selvagem, enxota-o com uma bengala, obriga-o a voltar para o quarto e fecha a porta à chave, com violência.
O serralheiro deixou de ser necessário. O médico foi esquecido
Grete, a irmã, foi vê-lo apenas na manhã seguinte, mas foi tomada de incontrolável terror e fugiu apressadamente. Volta, para empurrar o prato com comida para dentro do quarto. Por vezes entra, e Gregor, para ela não se assustar, esconde-se atrás dos móveis. A criada também entra, para limpar o quarto. Os pais, esses não entram.
O mundo de Gregor desmorona, dentro de quatro paredes: despedido da companhia (sendo ele um empregado exemplar), abandonado e desprezado pela família (que o vê apenas como um insecto repugnante), ferido e cada vez mais fraco.
Através da porta, ele escuta a rotina da família, e pensa, embevecido: Que vida tranquila tem levado a minha família…
Mas, chega o dia em que a família tem de ganhar o seu sustento.
E chega também o dia, em que a família começa a pensar num meio de se livrar daquela “coisa” repugnante, que só lhes dá trabalho e despesa.
Precisamos de livrar-nos dessa coisa! … É a única saída.
O que se segue?
Um fim trágico, claro!
Leia para saber. Aliás, não ler esta história é imperdoável.
Acredite, que não mais esquecerá a transformação física de Gregor (que ele nunca percebeu mas lhe possibilitou a fuga à opressão profissional e familiar) e a transformação comportamental da sua família.
Metamorfose, de Franz Kafka
Ed. Livros do Brasil, 2007
Tradução de Breno Silveira
108 págs.
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