04 dezembro, 2010

"Suite Francesa" - Irène Némirovsky

“Suite Francesa” é um retrato assombroso da França ocupada, do êxodo de 1940, e da vida quotidiana numa aldeia tomada pelo exército alemão, “desordem trágica que reuniu famílias francesas de todos os quadrantes, das mais abastadas às mais modestas”.
O manuscrito inacabado deste livro foi deixado pela autora às filhas, quando foi presa numa aldeia aonde se refugiara com a família e levada para o campo de concentração nazi de Auschwitz, de onde não voltaria.
A sua publicação só se efectuaria 60 anos depois.
Numa primeira parte retrata a fuga de Paris, “respirava-se a angústia, no ar, no silêncio”…. a preocupação com a cidade “amanhã estará em ruínas”…. mas ao mesmo tempo a indiferença “que importa….não passa de um monte de pedras… o essencial é salvar a vida”e a fuga para o campo. Era difícil suportar a “desordem … os assomos de ódio, o espectáculo repelente da guerra”, então “partiam na direcção das portas de Paris, ultrapassavam-nas, penetravam nos subúrbios, seguiam pelo campo”.
A segunda parte retrata a vida numa aldeia ocupada pelos alemães, onde os refugiados “sentiam uma vergonha desesperada e assustada à ideia de verem pela primeira vez os seus vencedores”. “As jovens olhavam-nos….as mães dos prisioneiros ou de soldados mortos na guerra apelavam à maldição divina sobre eles”. A autora revela, sem medos, uma imagem de França longe dos mitos da Resistência heróica, através de um olhar lúcido, irónico e cruel da alma humana.
Mais sobre a autora aqui.

Suite Francesa, de Irène Némirovsky
Dom Quixote, 2005
Tradução de Carlos Correia Monteiro de Oliveira
579 págs.

2 comentários:

  1. "Suite Francesa" foi o primeiro livro que li desta autora e, tal como "O Senhor das Almas", adorei, este retrata muito bem as gentes e as cidades/aldeias francesas do "tempo da guerra", vale a pena ler. Não sei se esta autora terá mais algum livro publicado em Portugal, nem sei tão pouco se, para além destes dois livros, "escapou" mais alguma coisa desta excelente escritora?

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  2. Olá!
    Sei que pelo menos mais duas obras tem: "David Golder" e "O Baile", mas eu não conheço.
    Fiquei com curiosidade e vou à procura...

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