28 julho, 2017

Sempre que vejo sangue, desmaio...


Sempre que vejo sangue, desmaio. Sou fraca a esse ponto, não suporto nem um beliscão. Incomoda-me essa debilidade, mas não consigo ultrapassá-la por mais que me esforce. Quando me têm de tirar sangue para uma análise, experimento todo o tipo de truques: olhar para outro lado, fechar os olhos, contar até cem; inclusivamente uma vez tentei o contrário, olhá-lo fixamente, concentrar-me no sangue e pensar que era água, torná-lo transparente com a força do meu olhar.

Aguento apenas uns segundos antes de sentir aquela frouxidão que nasce nos pés e se instala na boca do estômago, depois os ombros descaem, o pescoço cede, as maçãs do rosto fraquejam-me como cera derretida e, quando o frio chega ao cérebro, já não estou. Falta de luz. Não é desagradável. Pelo contrário, tem qualquer coisa de abençoado, esse abandono, essa interrupção total da consciência. Tomara eu dormir sempre assim, flutuar à deriva nessa paz com todas as amarras cortadas. O desmaio, como o sono, está fora do tempo, numa dimensão própria que parece eterna mesmo que dure apenas uns segundos.”


Enrique de Hériz , escritor espanhol (n. 1964), in “Mentira”, Ed. D. Quixote, 2006
Foto da net.

1 comentário:

  1. rss, conheço esse pavor vendo nos outros. Eu até guio as pessoas que me tiram sangue, pois tenho uma veia que nunca aparece. E fico dizendo, pega ela aqui mais embaixo que sei a rota dela!!
    E tem mais... dou injeção na veia que é uma perfeição!O Pedro que o diga!
    Acho que foi de tanto ver e receber. Como tenho pressão baixa, chegava o verão e tiro e queda: meu pai me dava um 'pacote' de injeção na veia para que eu aguentasse o calor, o desânimo que o calor me causava. E logo melhorava. Mas entendo esse pavor. Sou contra mostrarem na TV as campanhas de vacinação, mostrando exatamente a agulha entrando na pele... assim não dá!!
    Beijo, amiga, saudades!

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