05 abril, 2017

Vale a pena ler... José Tolentino Mendonça


“Conversava com uns amigos preocupados com o filho que anda agora pelos 17 anos. São ambos professores, os corredores de casa parecem uma biblioteca, mas o filho não lê um livro. Às vezes, dão por si a olhá-lo como se olha um estranho cuja língua e hábitos se ignoram. Não sabem como se formou o muro cultural que os separa. Veem-no horas e horas retido no ecrã do telemóvel, obsidiado por aquele retângulo brilhante, aos olhos deles fazendo nada. Lamentam o que lhes parece ser uma dependência, mas sentem-se impotentes. Quando tentam explicar-lhe que o ecrã é uma gaiola de vidro onde se deixa aprisionar, o filho levanta a cabeça, olha-os também sem entendê-los, mas sem intenção de substituir o que o ocupa por um livro qualquer. A primeira coisa de que me recordei – e que lhes disse – foi uma frase do escritor Gianni Rodari: “O verbo ler não suporta o imperativo”. Ler é uma atividade indissociável da curiosidade e do desejo. É preciso aprender a senti-la como uma necessidade interior, um gosto, uma alegria que pode até ser frívola e profunda ao mesmo tempo, um encontro a que nos dispomos sem porquê. Não basta uma ordem ou um conselho repetido. (…)"


Excerto da crónica “Quando os filhos não leem”, de José Tolentino Mendonça (presbítero e poeta português, n. 1965), publicada na “E”, revista do jornal Expresso de 1 Abril 2017
Vale a pena ler na íntegra.

(Foto da net)

4 comentários:

  1. Li o artigo no Expresso. José Tolentino Mendonça é um poeta que eu muito admiro.
    Obrigada pelas palavras deixadas no meu "Ortografia". Passarei aqui outras vezes.
    Beijo.

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  2. Bem verdade, a leitura não pode ser obrigação. As pessoas falam disso, mas não sabem resolver o problema. Tolentino é mais um a falar. Possivelmente bem, porque discorre e escreve com justeza e pertinência.
    E, por vezes, a estranheza muda. De repente, o adolescente passa a jovem e começa, por si mesmo, a ler. Creio que as amizades têm o seu peso.

    Mas também não entendo pais cujo único ponto de contacto com o filho sejam os livros que ele nem lê...

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  3. Pois é. Ainda agora discorria sobre esse assunto. O uso abusivo dos celulares, pra vocês telemovel. Existem até o formato de livros PDF, mas nunca me acostumei, ainda prefiro os ditos modernamente, livros físicos. Abraços e obrigado pela visita. Também seguindo-a.

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  4. O hábito da leitura se adquiri quando somos pequenos, ainda. Depois torna-se uma loteria... E hoje com os celulares (telemóvel), tornou-se um absurdo acreditar que a juventude lê. Estamos numa época que as redes sociais é que dão a razão à vida. Hoje, criancinhas com 1 ano estão com tablete na mão, e com 2 aninhos manobram um celular melhor do que eu. Esperar o quê?
    Beijo, amiga!

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