07 fevereiro, 2017

23º - Excertos do "Livro do desassossego", de Fernando Pessoa


255-(18-5-1930)
“Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir – é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida.
Apagar tudo do quadro de um dia para o outro, ser novo com cada madrugada, uma revirgindade perpétua da emoção – isto, e só isto, vale a pena ser ou ter, para ser ou ter o que imperfeitamente somos.”

256-(12-6-1930)
“Há momentos em que tudo cansa, até o que nos repousaria. O que nos cansa porque nos cansa; o que nos repousaria porque a ideia de o obter nos cansa. Há abatimentos da alma abaixo de toda a angústia e de toda a dor; creio que os não conhecem senão os que se furtam às angústias e às dores humanos, e têm diplomacia consigo mesmos para se esquivar ao próprio tédio. Reduzindo-se, assim, a seres couraçados contra o mundo, não admira que, em certa altura da sua consciência de si mesmos, lhes pese de repente o vulto inteiro da couraça, e a vida lhes seja uma angústia às avessas, uma dor perdida."

Leia (tudo) e… deslumbre-se!



4 comentários:

  1. E vale mesmo a pena ler Fernando Pessoa.
    Boa semana, Teresa.
    Beijo.

    ResponderEliminar
  2. Quanta filosofia de vida está contida em Fernando Pessoa! E em seus versos.
    Como é difícil viver o dia a dia, trazemos e vivemos sempre o passado. Sempre lembramos o ontem, e nunca o hoje, o instante. Deixamos pra viver o agora, só quando for passado... Recordamos as alegrias e as mágoas lá do passado. Enquanto isso o instante vai pro brejo.

    Beijo, querida.

    ResponderEliminar
  3. Tenho de colocar esse livro na minha estante, para ir lendo aos poucos... :)

    Beijinhos

    ResponderEliminar