17 novembro, 2015

4º - Excertos do "Livro do desassossego", de Fernando Pessoa


22-(1913?)
“Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso.”

25-(1913?)
“Não aspiro a nada . Dói-me a vida. Estou mal onde estou e já mal onde penso em poder estar.”

26-(1913?) Viagem nunca feita
“Cada um de nós é uma sociedade inteira, todo um bairro de Deus, convém que ao menos tornemos elegante e distinta e vida desse bairro, que nas festas das nossas sensações haja requinte e recato, e pompa sóbria e cortesã nos banquetes dos nossos pensamentos. “(…)
“Saber encontrar a cada sensação o modo sereno de ela se realizar. Fazer o amor resumir-se apenas a uma sombra de um sonho de amar, pálido e trémulo intervalo entre os cimos de duas pequenas ondas onde o luar bate. Tornar o desejo uma coisa inútil e inofensiva, no como que sorriso delicado da alma a sós consigo própria; fazer ela uma coisa que nunca pense em realizar-se nem em dizer-se. Ao ódio adormece-lo como a uma serpente prisioneira, e dizer ao medo que dos seus gestos guarde apenas a agonia no olhar, e no olhar da nossa alma, única atitude compatível com ser estética.”

Leia (tudo) e… deslumbre-se!


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