21 agosto, 2015

O beijo, em..."Manual de pintura e caligrafia" - José Saramago


“Beijámo-nos como dois adultos que muito bem sabem o que é o beijo. Beijámo-nos sabendo cada qual como dispor os lábios confortavelmente, como preparar o primeiro encontro das línguas, como dominar a respiração. E ambos soubemos em que preciso momento do beijo eu deveria inclinar-me sobre ela e ela deixar-se dobrar por mim, até nos encontrarmos semideitados no divã, de posse da nova intimidade que era a dos corpos apertando-se um contra o outro, enquanto as bocas prosseguiam o seu trabalho de provocação longínqua dos sexos já estimulados. O mais difícil é aquele em que as bocas se separam: a mínima palavra pode aí ser excessiva.”

14 agosto, 2015

Pintar e escrever, em....."Manual de pintura e caligrafia" - José Saramago


“Um verbo é uma cor, um substantivo um traço.”

“Não há cores por inventar. Juntando duas faço mil, juntando três um milhão, juntando sete o infinito, e se misturar o infinito reconquisto a cor primordial, para começar outra vez. Não importa que essas cores não tenham nome, que não se possa dar-lhes nome: existem e multiplicam-se.”


"Com a idade, aprendemos a cuidar das palavras."

“Transcrevendo, copiando, aprendo a contar uma vida, de mais na primeira pessoa, e tento compreender, desta maneira, a arte de romper o véu que são as palavras e de dispor as luzes que as palavras são.”

07 agosto, 2015

Vida e morte, em... "Manual de pintura e caligrafia" - José Saramago


“Entre morte e vida, entre grafia de morte e grafia de vida, vou escrevendo estas coisas, equilibrado na estreitíssima ponte, de braços abertos agarrando o ar, a desejá-lo mais denso – para que não fosse ou não seja demasiado rápida a queda.”

“Tudo é vida vivida, pintada, escrita: o estar vivendo, o estar pintando, o estar escrevendo: o ter vivido, o ter escrevido, o ter pintado.”

“Tenho (ou tive na adolescência, e ainda me resta) a obsessão da morte, ou não tanto da morte mas do morrer. Não sei se o diria assim cruamente, considerando que ninguém gosta de confessar cobardias, e esta é a maior de todas, precisamente porque nos acomete a sós, em silêncio e às vezes em completa segurança: antes de adormecer, quando o quarto perde as suas dimensões e nem os móveis ameaçam, sem qualquer inimigo que ali diante dos olhos nos aponte devagar uma arma ou aproxime a ponta de uma faca. Provavelmente não o diria.”


“Transcrevendo, copiando, aprendo a contar uma vida, de mais na primeira pessoa, e tento compreender, desta maneira, a arte de romper o véu que são as palavras e de dispor as luzes que as palavras são.”


“A minha vida é uma impostura organizada discretamente: como não me deixo tentar por exagerações, fica-me sempre a segura margem de recuo, uma zona de indeterminação onde facilmente posso parecer distraído, desatento, e, sobretudo, nada calculista. Todas as cartas do jogo estão na minha mão, mesmo quando não conheço o trunfo: é certo que pouco ganho quando ganho, mas as perdas também são mínimas. Não há grandes e dramáticos lances na minha vida.”

01 agosto, 2015

Vou de férias

Todos os anos, em Agosto vou de férias e nada, mesmo nada, escrevo no meu rol de leituras.
Ora, este ano será diferente. Vou de férias, sim, mas ao longo do mês aparecerão no rol excertos do romance “Manual de pintura e caligrafia”, de José Saramago. Gostei tanto do que li, que não resisto a partilhá-lo com vocês.
É claro que mesmo de férias vou continuar a ler. Escolhi dois Grandes (e pesados) livros de autores portugueses:
- “Sinais de fogo”, de Jorge de Sena,
- “Abraço”, de José Luís Peixoto
Haja fôlego!


Até Setembro.
Frescas e descansadas férias para todos.
Boas e arrebatadoras leituras.