07 março, 2014

"Metamorfose" - Franz Kafka

Já passaram muitos anos sobre a minha primeira leitura desta obra de Kafka. Por isso, achei que era altura de voltar a esta surpreendente parábola sobre a alienação humana, sobre o absurdo da vida, para a divulgar no meu rol.
Quando Gregor Samsa despertou, certa manhã, de um sonho agitado viu que se transformara, durante o sono, numa espécie monstruosa de insecto.
É assim que começa a mais conhecida e estudada obra de Kafka, publicada em 1915, escrita em apenas três semanas, tinha ele 29 anos.
Dificilmente encontramos na literatura um primeiro parágrafo com a força deste. Concorda?
Vamos à história.
Gregor Samsa é solteiro,caixeiro-viajante e vive com os pais e uma irmã, de dezassete anos.
Não gosta da sua profissão, muito menos da companhia onde trabalha, e ainda menos do patrão, avarento e insensível, mas cumpre rigorosamente as suas obrigações laborais, para sustentar a família e pagar as dívidas do pai.
É apenas isso que o move: trabalhar arduamente, para garantir o sustento e a tranquilidade da família.
Certo dia, Gregor acordou às seis e meia da manhã. Não ouviu tocar o despertador às quatro horas, nem apanhou o comboio das cinco, como fazia diariamente.
Entra em pânico. Tem de apanhar o comboio das sete horas. Tem de chegar rapidamente à companhia. Tem de evitar a cólera do patrão. Tem de conservar o emprego. Tem de sustentar a família. Tem de manter a tranquilidade do lar. Tem de se levantar da cama… mas não consegue.
Não consegue, porque durante o sono se transformou num enorme insecto com numerosas perninhas, em perpétua vibração, sobre as quais não exercia controlo algum.
Através da porta, fechada à chave, os pais gritam para que ele se levante e vá apanhar o comboio
O gerente da companhia vai lá a casa saber o motivo do atraso, e pergunta: Que lhe aconteceu? O senhor fecha-se no quarto … aflige desnecessariamente os seus pais e descuida os seus deveres profissionais de uma maneira inaudita!
Depois de muitas tentativas, Gregor levanta-se da cama, mas cai no chão e fere a cabeça.
O barulho da queda foi ouvido do outro lado e o pai manda chamar um serralheiro e um médico.
Gregor decide abrir a porta para saber que impressão causaria àquela gente, que tão imperiosamente exigia a sua presença. Apoiado nos móveis, chega à porta, roda a chave na fechadura, e…
… o gerente, fora de si, foge; a mãe, desfalecida, grita por socorro; o pai urra como um selvagem, enxota-o com uma bengala, obriga-o a voltar para o quarto e fecha a porta à chave, com violência.
O serralheiro deixou de ser necessário. O médico foi esquecido
Grete, a irmã, foi vê-lo apenas na manhã seguinte, mas foi tomada de incontrolável terror e fugiu apressadamente. Volta, para empurrar o prato com comida para dentro do quarto. Por vezes entra, e Gregor, para ela não se assustar, esconde-se atrás dos móveis. A criada também entra, para limpar o quarto. Os pais, esses não entram.
O mundo de Gregor desmorona, dentro de quatro paredes: despedido da companhia (sendo ele um empregado exemplar), abandonado e desprezado pela família (que o vê apenas como um insecto repugnante), ferido e cada vez mais fraco.
Através da porta, ele escuta a rotina da família, e pensa, embevecido: Que vida tranquila tem levado a minha família…
Mas, chega o dia em que a família tem de ganhar o seu sustento.
E chega também o dia, em que a família começa a pensar num meio de se livrar daquela “coisa” repugnante, que só lhes dá trabalho e despesa.
Precisamos de livrar-nos dessa coisa! … É a única saída.
O que se segue?
Um fim trágico, claro!
Leia para saber. Aliás, não ler esta história é imperdoável.
Acredite, que não mais esquecerá a transformação física de Gregor (que ele nunca percebeu mas lhe possibilitou a fuga à opressão profissional e familiar) e a transformação comportamental da sua família.

Metamorfose, de Franz Kafka
Ed. Livros do Brasil, 2007
Tradução de Breno Silveira
108 págs.

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