14 junho, 2013

"Ninguém escreve ao coronel" - Gabriel García Márquez

Durante cinquenta e seis anos – desde que terminou a última guerra civil – o coronel não fizera outra coisa senão esperar.
Primeiro pelo subsídio, que não fora mais do que uma promessa de um governo interessado em desmobilizar os oficiais da revolução, depois pela carta que anuncie a sua pensão de veterano.
É triste, mas lindo, este romance que Gabriel García Márquez escreveu em 1957, e que conta a história de um coronel (sem nome), de setenta cinco anos, que espera pacientemente pela sua pensão de veterano. Pontualmente, todas as sextas-feiras o velho coronel sai de casa para ver chegar e distribuir o correio, na esperança de voltar para junto da mulher, asmática, com a carta esperada.
A mulher, companheira de solidão, de quarenta anos de vida em comum, de fome em comum, de sofrimento em comum, espera-o:
- Nada?
- Nada.
A frustração repete-se, semana após semana.
- Já estamos fartos de esperar, disse-lhe a mulher. - É preciso ter a paciência de boi que tu tens para esperar por uma carta durante quinze anos.
Vivem num estado de extrema pobreza, numa casa de tecto de palma com paredes de caliça onde já nada resta para vender, onde se põem pedras a ferver para que os vizinhos não percebam que ali há dias em que não se faz comida.
Vivem num estado de extrema tristeza, pela perda do único filho, Agustín, assassinado quando distribuía propaganda clandestina.
Do filho herdaram um valente galo de combate que o coronel teima em manter e alimentar, na esperança de um dia ganhar com ele algum dinheiro num combate, para desespero da mulher, que preferia fazer dele galo de cabidela.
- É um galo que é dinheiro em caixa – disse ele. - Vai dar-nos de comer durante três anos.
- As ilusões não se comem – responde ela.
- Não se comem, mas alimentam – retorquiu o coronel.
De ilusão em ilusão, de empréstimo em empréstimo (para pagar quando chegar a pensão), a vida dos dois idosos reduz-se a três palavras: espera, solidão, fome.
É difícil ler nas entrelinhas do que a censura permite publicar.
E mais não digo.
Ufa!
Ao longo de 103 páginas esperou o coronel e esperei eu, que o “raio” da pensão chegasse.
Esperei e desesperei.
Mas gostei.
 
Ninguém escreve ao coronel, de Gabriel García Márquez
Círculo de Leitores, 1994
Tradução de José Colaço Barreiros
103 págs.

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