27 junho, 2013

"Nelson Mandela: Uma lição de vida" - Jack Lang


"Ser pela liberdade não é apenas tirar as correntes de alguém, mas viver de forma que respeite e melhore a liberdade dos outros."- Nelson Mandela
 
É interessante a forma encontrada por Jack Lang (ex-ministro da cultura de França), para escrever sobre Nelson Mandela.
Misturou factos reais da vida e da época do estadista com heróis da mitologia, colocou-o no grande palco do mundo e deu-lhe o papel principal de um drama em cinco actos: Antígona; Espártaco; Prometeu, Próspero, O rei Nelson.
Cinco actos (capítulos) que revelam a vida de um homem simples, nascido em 1918, advogado de formação, preso político durante vinte e sete anos, libertado em 1990, primeiro presidente negro da África do Sul, Prémio Nobel da Paz em 1993.
Nelson Mandela, o grande activista pelos direitos humanos, o guerreiro humilde que reconciliou negros e brancos, o estadista com um extraordinário dom da palavra, o homem que amava o teatro.
Na prisão de Robben Island, quando as condições de detenção se tornam menos desumanas, inicia os companheiros nas obras-primas do repertório universal: “as nossas produções eram o que se poderia classificar agora como minimalistas: não havia palco, nem cenário, nem guarda-roupa. Tudo o que tínhamos era o texto da peça. Só actuei em algumas das peças, mas tive um papel memorável: o de Creonte, o rei de Tebas, na Antígona de Sófocles.”
 
Diz no prefácio a sul-africana Nadine Gordimer, escritora e activista pelos direitos humanos, galardoada com o Prémio Nobel de Literatura, 1991.
“Se há uma forma de génio específico da qualidade humana, Mandela é possuidor desse génio.”
Concordo!
 
Nelson Mandela – Uma lição de Vida, de Jack Lang
Ed. Bizâncio, 2005
Tradução de Francisco Agarez
230 págs.

25 junho, 2013

Enquanto eu lia... o meu feto "nephrolepis cordifolia" crescia

O meu feto "vive" na cozinha, em cima do frigorífico, viradinho para uma janela com vista para o mar. Talvez por isso, ele cresça sem parar...
Verdade! É exigente, o fulano.
Hoje celebra o 5º aniversário e eu ofereci-lhe uma mudança de vaso e um borrifo de água fresca.
Gostou!

21 junho, 2013

"O Baile" - Irène Némirovsky

Ninguém a amava, nem uma única pessoa… Mas será que não viam, cegos, estúpidos, que ela era mil vezes mais inteligente, mais valiosa, mais profunda do que todos eles, do que esses que ousavam educá-la, instruí-la… Novos ricos grosseiros, incultos…
Irène Némirovsky, prematuramente morta em Auschwitz em 1942, inspirou-se na relação difícil que tinha com a mãe, para escrever esta pequena novela, em 1928. É um dos seus primeiros livros.
Chamou Antoinette à protagonista, colocou-a numa família que enriqueceu de repente - e ela nunca conseguiu compreender muito bem como isso acontecera, deu-lhe uma boa dose de inteligência, ternura e crueldade e brindou-nos com um romance sobre a adolescência e os seus tormentos.
Diz a sinopse:
Antoinette tem catorze anos e deseja participar, mesmo que apenas por instantes, no baile que os seus pais, os Kampf, organizaram para ostentar a sua recém-adquirida riqueza. Mas a mãe decide não permitir a presença da filha, cujo corpo e maneiras a envergonham.
Desesperada, Antoinette vai vingar-se de um modo tão radical como inesperado.
Mais tarde diria a um homem: «Oh, eu era uma criança terrível, sabe? Imagine que uma vez…
O que é que ela fez?
Não posso (não devo) desvendar, mas posso dizer que… adorei!
(Calma Teresa, que exagero.)
Será?
Leia, para saber.
 
O Baile, de Irène Némirovsky
Ed. Relógio d’Água, 2012
Tradução de Fernanda Frazão
55 págs.

18 junho, 2013

Aqui... os que escrevem "falam" sobre livros e leituras

 
 
“Até os maus livros são livros e, por isso, sagrados”.
Günter Grass, escritor alemão (1927-)
Prémio Nobel de Literatura, 1999
 
“Até o pior dos livros tem uma página boa. A última”.
John James Osborne, actor e roteirista britânico (1929-94)
 
"O livro é uma extensão da memória e da imaginação."
Jorge Luis Borges, poeta argentino (1899-1986)
 
"O talento não basta para fazer o escritor. Atrás do livro deve haver o homem."
Ralph Waldo Emerson, escritor americano (1803-82)
 
"A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde."
André Malraux, escritor francês (1901-76)
 
“Lê os melhores livros primeiro porque podes não ter tempo de os ler todos”.
Henry Thoreau, poeta, historiador e filósofo americano (1817-62)
 
"Livros e solidão: eis o meu elemento."
Benjamin Franklin, escritor, cientista, inventor americano (1907-90)
 
“Amar a leitura é trocar horas de fastio por horas de inefável e deliciosa companhia”.
John F. Kennedy, 35° presidente dos Estados Unidos (1917-63)
 
“É preciso folhear meia biblioteca para fazer um livro.”
Samuel Johnson, escritor e pensador inglês (1709-1784)
 
“… a morte também é leitora, por isso aconselho a que andem sempre com um livro na mão, porque, quando a morte chega e vê o livro, espreita para ver o que estamos a ler… e distrai-se.”
Rosa Montero, escritora espanhola (1951-), in “A louca da casa”, Ed. Asa, 2004
 
“Um mundo sem livros é um mundo sem atmosfera, como Marte.”
Rosa Montero, escritora espanhola (1951-), in “A louca da casa”, Ed. Asa, 2004
 
“Ler não é mais do que criar um pequeno jardim no interior da nossa memória”.
Susanan Tamaro, escritora italiana (1957-), in “Querida Mathilda”, Ed. Presença, 1998
 
“Um bom livro é o precioso sangue vital de um espírito mestre, embalsamado e entesourado de propósito para uma vida para lá da vida, e como tal deverá seguramente ser um bem de primeira necessidade.”
Penelope Fitzgerald, escritora inglesa (1916-2000), in “A livraria”, Ed. Clube do Autor, 2011
 
“Nunca se deve subestimar o poder dos livros”.
Paul Auster, escritor americano (1947-), in “As loucuras de Brooklyn”, Ed. ASA, 2006

14 junho, 2013

"Ninguém escreve ao coronel" - Gabriel García Márquez

Durante cinquenta e seis anos – desde que terminou a última guerra civil – o coronel não fizera outra coisa senão esperar.
Primeiro pelo subsídio, que não fora mais do que uma promessa de um governo interessado em desmobilizar os oficiais da revolução, depois pela carta que anuncie a sua pensão de veterano.
É triste, mas lindo, este romance que Gabriel García Márquez escreveu em 1957, e que conta a história de um coronel (sem nome), de setenta cinco anos, que espera pacientemente pela sua pensão de veterano. Pontualmente, todas as sextas-feiras o velho coronel sai de casa para ver chegar e distribuir o correio, na esperança de voltar para junto da mulher, asmática, com a carta esperada.
A mulher, companheira de solidão, de quarenta anos de vida em comum, de fome em comum, de sofrimento em comum, espera-o:
- Nada?
- Nada.
A frustração repete-se, semana após semana.
- Já estamos fartos de esperar, disse-lhe a mulher. - É preciso ter a paciência de boi que tu tens para esperar por uma carta durante quinze anos.
Vivem num estado de extrema pobreza, numa casa de tecto de palma com paredes de caliça onde já nada resta para vender, onde se põem pedras a ferver para que os vizinhos não percebam que ali há dias em que não se faz comida.
Vivem num estado de extrema tristeza, pela perda do único filho, Agustín, assassinado quando distribuía propaganda clandestina.
Do filho herdaram um valente galo de combate que o coronel teima em manter e alimentar, na esperança de um dia ganhar com ele algum dinheiro num combate, para desespero da mulher, que preferia fazer dele galo de cabidela.
- É um galo que é dinheiro em caixa – disse ele. - Vai dar-nos de comer durante três anos.
- As ilusões não se comem – responde ela.
- Não se comem, mas alimentam – retorquiu o coronel.
De ilusão em ilusão, de empréstimo em empréstimo (para pagar quando chegar a pensão), a vida dos dois idosos reduz-se a três palavras: espera, solidão, fome.
É difícil ler nas entrelinhas do que a censura permite publicar.
E mais não digo.
Ufa!
Ao longo de 103 páginas esperou o coronel e esperei eu, que o “raio” da pensão chegasse.
Esperei e desesperei.
Mas gostei.
 
Ninguém escreve ao coronel, de Gabriel García Márquez
Círculo de Leitores, 1994
Tradução de José Colaço Barreiros
103 págs.

07 junho, 2013

"A Caverna" - José Saramago

Penso que as palavras só nasceram para poderem jogar umas com as outras, que não sabem mesmo fazer outra coisa, e que, ao contrário do que se diz, não existem palavras vazias.
É isso que Saramago faz em mais este romance - joga com as palavras, como só ele sabe fazer.
A história é sobre o impacto de um Centro Comercial (A CAVERNA) na vida de gente simples: Cipriano Algor (oleiro de profissão), a filha Marta (a filósofa do tempo e dos sentimentos, que o ajuda na olaria), o genro Marçal Gacho (guarda no centro), a vizinha Isaura Estudiosa (depois Isaura Madruga) e até em Achado, o cão que iluminou a vida do oleiro.
Cipriano Algor é viúvo, tem sessenta e quatro anos e vive com a filha e o genro na casa ao lado da olaria, onde já o seu avô trabalhou o barro. É da olaria que Cipriano tira o seu sustento. Com a ajuda da filha, produz louça em barro que vende ao Centro.
A história começa precisamente com a entrega de um carregamento de louça no Centro. Desta vez corre mal. Cipriano é informado que as vendas dos seus produtos diminuiram e que, por essa razão, ele só descarregaria metade da nova encomenda; que não pretendiam mais louça artesanal (a preferência dos clientes ia para os artigos de plástico, mais baratos); que iriam devolver-lhe a louça acumulada no armazém, louça que ele estava proibido de vender a outros comerciantes da cidade.
É no Centro que trabalha o genro Marçal. É um dos guardas do enorme edifício - uma cidade dentro de outra cidade - onde milhares de pessoas vivem, trabalham, compram, divertem-se, num ambiente sufocante de janelas fechadas e luz artificial e sempre vigiados por guardas e câmaras de vídeo.
Mais tarde, Marçal será promovido a guarda residente e irá viver para o Centro com Marta… e Cipriano Algor, o oleiro.
Mas, como isso só acontece lá para o fim da história, volto a Cipriano, o oleiro alarmado com o que acabou de ouvir, que regressa a casa com a furgoneta meio cheia de louça, que decide enterrar todas as peças num buraco, que desabafa com a filha sobre os seus medos do futuro.
Mas, o futuro tardará e é no presente que ele vai receber... dois presentes.
O primeiro esperava-o à porta de casa, tinha quatro patas e chamar-lhe-á Achado.
O segundo, encontrou-o à saída do cemitério, depois de protestar diante da sepultura da mulher (Justa Isasca) que não é justo, Justa, o que me fizeram, rirem-se do meu trabalho e do trabalho da nossa filha, dizem eles que as louças de barro deixaram de interessar, que já ninguém as quer, portanto também nós deixámos de ser precisos, somos uma malga rachada em que já não vale a pena perder tempo a deitar gatos… e se cruzou com uma mulher vestida de negro que lhe diz, Amanhã lá vou comprar um cântaro, mas oxalá seja melhor do que este, que se me ficou a asa dele na mão quando o levantei, desfez-se em cacos e alagou-me a cozinha toda. Cipriano responde de imediato, Escusa de ir à olaria, eu levo-lhe um cântaro novo… não tem de pagar, é oferta da fábrica.
Isto bastou para Cipriano deixar de pensar em decepções de não ganhar nem em medos de vir a perder.
Antes de ir viver com a filha, grávida (outro presente), e o genro para o Centro, Cipriano embarca numa nova aventura: fabricar bonecos. Bonecos de barro, com a forma humana, que exigiam uma nova técnica de modelação do barro. A ideia foi da filha. Cipriano hesitou mas logo de seguida, Por onde começamos, perguntou, Por onde sempre há que começar, pelo princípio, responde Marta.
E chegou o dia de Cipriano ir viver com Marta e o genro para o Centro. O Centro onde será enclausurado, sem ver o sol nem as estrelas, longe do amigo Achado e do amor de Isaura. Será por pouco tempo. Isto porque Cipriano, agora não o oleiro mas o investigador, descobrirá por conta própria numa CAVERNA (o mito da caverna de Platão?!) aberta no subsolo do Centro um segredo aterrador.
O que se segue?
 
De todos os romances de Saramago que já li, este foi o que menos me agradou. Achei-o aborrecido, desinteressante e maçudo.
Não desisti, mas pouco faltou. Porquê?
Há coisas que são tanto aquilo que são, que não precisam que as expliquemos.
 
A Caverna, de José Saramago
Ed. Caminho, 2000
350 págs.

04 junho, 2013

Desafio nº 18 – Este romance é um cântico de esperança na luta pela justiça social. A heroína é uma velha mulher do povo. Quem o escreveu?

Diariamente, entre o fumo e o cheiro de óleo do bairro operário, situado no arrabalde, a sereia da fábrica apitava e vibrava. Das casas escuras saíam à pressa, como baratas assustadas, pessoas tristes, de músculos ainda entorpecidos. Ao ar frio da manhã, caminhavam pelas ruas mal pavimentadas para a alta gaiola de pedra que, serena e indiferente, as esperava com os seus numerosos olhos quadrados e viscosos. A lama estalava sob os seus passos. Exclamações roucas de vozes sonolentas vinham ao seu encontro, injúrias e pragas rasgavam o ar. Ouviam-se agora outros sons: o ruído surdo das máquinas, o grunhido do vapor. Escuras e rebarbativas, as altas chaminés negras perfilavam-se, dominando o bairro como grandes varapaus.
No bairro falava-se dos socialistas que difundiam por toda a parte folhetos escritos a tinta azul. Esses folhetos denunciavam com energia o que se passava na fábrica…
A mãe compreendia que toda essa agitação era obra do filho. Via as pessoas juntarem-se à volta dele, e os receios pelo seu futuro misturavam-se com o orgulho de ter um tal filho.

Ajuda se eu disser que a vida de quem o escreveu foi marcada pela miséria e pela violência?
Ajuda se eu disser que é um clássico da literatura soviética?
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Resposta do Desafio nº 17:
Foi fácil este desafio. Ou melhor, foi facílimo.
Claro que é “Amor de Perdição”, do grande Camilo Castelo Branco, publicado em 1862.
Parabéns para quem acertou.

02 junho, 2013

HOME: História de uma viagem - no canal Odisseia

A todos os que passarem pelo meu rol aconselho o visionamento da magnífica série que passa no canal Odisseia - HOME: história de uma viagem, do prestigiado fotógrafo francês Yann Arthus-Bertrand, que sobrevoou o mundo, de balão e de helicóptero, e recolheu imagens de uma beleza indescritível.
Acabei de ver o primeiro episódio e fiquei extasiada.
Esta é daquelas séries  que não apagarei e a que voltarei vezes sem conta.
Gravem, vejam e pasmem com tamanho encantamento.
 
Por momentos esqueçam as leituras, cliquem no botão da televisão e espantem-se com a grandiosidade de imagens arrebatadoras do nosso mundo.
 
Se visionarem a série depois de passarem por aqui, peço que manifestem numa palavra, numa só palavra, o que sentiram perante tanta e avassaladora beleza.
 
Aqui fica a minha: SUBLIME!