17 maio, 2013

"Capitães da Areia" - Jorge Amado

… eram os donos da cidade, os que a conheciam totalmente, os que a amavam, os seus poetas.
Diz a sinopse:
Em Capitães de Areia, porventura o mais famoso romance de Jorge Amado, conta-se a vida das crianças abandonadas nas ruas da cidade de Salvador, numa das mais belas, dramáticas e líricas histórias jamais escritas no Brasil.
Fiquei curiosa e continuei a ler:
… é uma obra terrivelmente triste que repercute fundo no coração do homem livre. Dela se pode dizer o que tantas vezes se diz daqueles livros “absolutos” que os séculos não conseguem apagar da tradição cultural dos povos: existe sempre.
Não necessitei de ler o resto, abri o livro na primeira página e… não parei mais. Ou melhor, parei, mas para respirar fundo e poder controlar a comoção.
A escrita de Jorge Amado é tão surpreendente que eu “voava” das páginas do romance, para junto do grupo de meninos de rua e sofria com as dores deles. É estranho, mas é verdade.
O romance está dividido em três partes:
1ª Sob a lua, num velho trapiche abandonado
Começa com a descrição do velho trapiche (armazém) abandonado à beira-mar, muito sujo e infestado de ratos, onde os Capitães da Areia dormem e se escondem da polícia, e termina com um surto de varíola a assolar a cidade e a matar alguns meninos.
Apresenta o grupo de moleques de todas as cores, com idades entre os nove e os dezasseis anos, crianças que vivem a grande liberdade das ruas, mas também o abandono de qualquer carinho, a falta de todas as palavras boas. Eis alguns:
Pedro Bala: o líder corajoso e audaz, que há dez anos vive nas ruas da cidade que bem conhece. Ganhou numa luta a liderança do grupo ao mulato Raimundo. Dessa luta Pedro Bala ganhou uma cicatriz no rosto. A cicatriz e os caracóis loiros são a sua imagem de marca. Tem quinze anos. Nunca soube da mãe e o pai, estivador, foi morto pela polícia quando liderava uma greve.
João José (o Professor): o intelectual, o pintor, o perito no furto de livros, que lia para o grupo e empilhava num canto do trapiche. Colaborava com o líder na preparação dos assaltos.
Sem-pernas: o coxo que odiava a cidade, a vida, os homens. Amava unicamente o seu ódio, sentimento que o fazia forte e corajoso, apesar do defeito físico.
Pirulito: o mais malvado do grupo até sentir o chamamento divino. Rouba para comer, enquanto espera ser sacerdote do seu Deus. É lindo o capítulo “Deus sorri como um negrinho”, onde ele rouba o Menino dos braços da Virgem.
João Grande: o negro grande e valente respeitado por todos.
Boa-Vida: Indolente e mulherengo.
O Gato: mexe no baralho “marcado” como ninguém e ganha todas as apostas. É o galã do grupo.
Padre José Pedro: o padre mais humilde da região da Baía. O seu desejo de catequizar as crianças abandonadas levou-o até aos Capitães da Areia, de quem se tornou amigo e protector. É uma das poucas pessoas com acesso ao trapiche.
Don’Aninha: a mãe de Santo amiga do grupo e de todos os pobres da Baía. Também ela sabe onde se escondem os meninos.
Liberdade era o sentimento mais arraigado nos corações dos Capitães da Areia.
2ª Noite da grande paz, da grande paz dos teus olhos
Entra para o grupo a primeira menina, Dora, 13 anos.
Ela vagueava pela cidade com o irmãozinho de 6 anos, depois de a varíola lhe levar os pais, quando foi avistada pelo Professor e João Grande e levada para o trapiche. Os dois meninos protegem-na do grupo que quer violentá-la e de Pedro Bala que quer expulsá-la. Dora fica no trapiche e torna-se na amiga, irmã e mãezinha do grupo. Viverá com Pedro Bala uma linda história de amor, até subir ao céu como uma estrelinha brilhante.
O amor é sempre bom e doce, mesmo quando a morte está próxima.
3ª Canção da Bahia, canção da liberdade
Após a morte de Dora o grupo desintegra-se. O Professor vai estudar pintura para o Rio de Janeiro. Pirulito veste a batina de frade. Sem-pernas atira-se para o vazio, para não ser capturado pela polícia e Pedro Bala transforma os Capitães da Areia numa brigada de choque e logo a seguir abandona o grupo. A revolução comunista chama-o para ajudar a mudar o destino de todos os pobres.
A liberdade é como o sol, o bem maior do mundo.
Maravilhoso!
 
Capitães da areia, de Jorge Amado
Publicações Europa-América, 1970
266 págs.

9 comentários:

  1. Também li recentemente e adorei! Um daqueles livros que dificilmente esquecemos...

    Beijocas!

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    1. Olá Teté,
      Felizmente, que no meio de tanto lixo literário ainda encontramos romances que nos tocam, ficam na nossa memória e tornam o autor imortal.
      Bjs.

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  2. Concordo totalmente. É mesmo maravilhoso.É um livro que eu hei-de reler um dia destes.
    Para mim, é o melhor livro de Jorge Amado. Ainda há dias estava com uns amigos a tentar descortinar um escritor que me divertisse na leitura, no sentido de me fazer rir. E que me vinha à mente era apenas Jorge Amado, no seu incrível sentido de humor, falando de coisas muito sérias. Um escritor genial.

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    1. Olá Manuel,
      Estupidamente não conheço bem a obra de Jorge Amado. Passei os olhos pelos dois romances que "viraram" telenovela, emocionei-me com a pequenina história de amor "O gato malhado..." e agora sim, li Jorge Amado. Peço dicas sobre outros romances do baiano.
      Boas leituras.

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  3. Teresa, eu também só li 4.
    No País do Carnaval é giro mas não é uma obra de grande fôlego.
    Gabriela Cravo e Canela não me convenceu, talvez porque a telenovela tinha outros atrativos ;)
    Este Capitães de Areia é genial.
    Um que gostei mesmo foi Dona Flor e seus dois maridos". É divertidissimo e tenho a certeza que vais gostar
    beijinhos

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    1. Vi no cinema "Dona Flor e seus dois maridos" há muitos, muitos anos. Vou procurar o livro. Obrigada pela dica.
      Já agora,se gostas de livros que te divirtam (muito) deixo-te três sugestões: "O complexo de Portnoy" de Philip Roth;"Solar" de Ian McEwan; "A questão Finkler" de Howard Jacobson. Desculpa mas não espreitei no teu blogue a até podes já ter lido. Para mim, são três romances estupendos e hilariantes.
      Bjs.

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  4. OlÁ Teresa
    desses 3 só li A Questão Finkler e A-DO-REI :)
    Vou tentar encontrar esses outros dois que me recomendas e que não conheço; aliás, não imaginava Roth como escritor divertido. Li apenas um livro dele e até o achei bastante sério (A Conspiração Conta a América).
    beijinhos e obrigado pelas dicas.

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  5. Teresa,estou a terminar o Complexo de Portnoy e estou a adorar.
    Obrigado pela sugestão :)

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    1. Olá Manuel,
      Ainda bem que estás a gostar.
      Eu sou louquinha pelas histórias sérias /divertidas de Philip Roth. Deste autor aconselho-te todos os livros...Se quiseres continuar no registo da galhofa lê "Solar", de Ian McEwan.É o máximo!
      Bjs.

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