08 março, 2013

"Caim" - José Saramago

A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.
… é de novo José Saramago, numa interpretação muito própria, polémica, irreverente e satírica da bíblia.
Desta vez é uma intuitiva e definitiva história sobre caim e os seus desentendimentos com deus.
A história começa com a expulsão de adão e eva do jardim do éden, depois de terem desobedecido ao senhor ao comerem fruta da árvore do conhecimento do bem e do mal.
… acabara-se a boa vida.
No exterior do jardim esperava-os uma terra árida e inóspita, muito frio, muita fome e muito trabalho.
Mas um dia, adão pôde comprar um pedaço de terra, levantar uma casa de toscos adobes e preparar o nascimento dos seus três filhos, caim, abel e set.
Era voz unânime, entre os vizinhos, que aquela família tinha futuro… e ia tê-lo, com a sempre indispensável ajuda do senhor…
Os irmãos mais velhos eram grandes amigos, faziam tudo de comum acordo. Discordavam apenas na vocação:
Abel preferia o gado, caim as enxadas e as forquilhas.
Até que um dia o futuro entendeu que já era hora de se apresentar.
E foi nesse dia, aziago, que caim assassinou abel. E quando deus apareceu, caim culpou-o por não ter evitado que ele matasse o irmão. E deus respondeu-lhe que ele, caim, era o único culpado.
Depois de muita conversa deus faz um acordo de responsabilidade partilhada com caim:
A minha porção de culpa não absorve a tua, terás o teu castigo, Qual, Andarás errante e perdido pelo mundo… porei um sinal na tua testa, ninguém te fará mal… é o sinal da tua condenação… mas é também o sinal de que estarás toda a vida sob a minha protecção…
E caim aceita o seu destino e parte, levando na testa uma mancha negra.
O que se segue?
- o relato irónico dos encontros de caim com protagonistas de episódios bíblicos do Antigo Testamento, bem conhecidos do leitor;
- fantasiosos e hilariantes diálogos de caim com o criador.
….não haverá nada mais que contar.
Termina, assim, esta história polémica, irreverente, hilariante, viciante e muito fácil de ler.
Saramago afirmou, aquando da sua publicação: “Escrevo para desassossegar, não quero leitores conformados, passivos, resignados”.
 
Caim é o último livro de Saramago.
Aconselho a sua leitura a toda a gente, especialmente àqueles que têm medo de “penetrar” nas histórias do nosso Nobel.
Eu considero que este é o livro certo para se iniciarem no prazer de ler Saramago. Independentemente da polémica, o divertimento é total.
Nos pormenores é que está o sal.
Acreditem!
 
Caim, de José Saramago
Ed. Caminho, 2009
181 págs.

12 comentários:

  1. Olá Teresa,
    Não sei se é o livro ideal para começar a ler Saramago mas é divertido.
    Acho apenas que é necessário conhecer algumas histórias da Bíblia para apreciar devidamente este livro, caso contrário muitos pormenores não são compreendidos, o que é uma pena.
    Boas leituras.

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    1. Olá Patricia,
      Concordo plenamente contigo.
      Eu deveria ter chamado a atenção para isso mas... acredito que destas histórias já todos ouviram falar.
      O que não invalida que não as devam ler na Bíblia, para melhor compreensão do romance.
      Bjs.

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  2. Segui com muita atenção o lançamento do livro e toda a polémica.
    Saramago, como de costume, foi muito inteligente, deu conferências de empresa a criticar Deus, as críticas foram muitas ao livro por isso, mas na realidade o que é criticado em Caim é o comportamento do Homem, que é um ser tão cruel que é capaz de inventar um Deus para supostamente em nome dele cometer as maiores atrocidades que lhe vem há cabeça. Saramago disse antes do lançamento do livro que se a Guerra entre a Palestina e Israel não tivesse sido reatado não escreveria Caim. Caim é muito isso, a guerra e o ser humano no seu pior.
    Lembro-me de em Espanha, depois da publicação da obra em Portugal de Saramago dizer: Caim é como a Bíblia, muito gente fala dela, mas poucas ainda a leram, por isso fala-se muito, mas acerta-se pouco.

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  3. Olá Tiago,
    Gostei do seu comentário.
    Com poucas palavras disse muito acerca do caim deste romance.
    Saramago, à sua maneira irónica e divertida, reescreve episódios do Antigo Testamento, com o toque angustiante e cruel do presente.
    Nunca aprendi a ler a Bíblia. Tenho-a na mesinha de cabeceira e sempre que preciso de um aconchego saltito de página em página e faço uns sublinhados aqui e ali.
    Está na altura de pegar nela...
    Boas leituras.

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  4. Olá Teresa,
    ontem vim cá comentar este seu post e na semana passada respondi ao seu desafio da citação do livro mas por qualquer motivo os comentários não estão a aparecer...
    Boas leituras.

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    1. Olá André Nuno,
      O comentário do desafio será publicado aquando da publicação do próximo desafio.Disso dei conta num desafio publicado há já algum tempo. Posso dizer-lhe que acertou na resposta.
      O comentário sobre o Caim... não chegou cá.
      Bjs.

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  5. Olá Teresa... eu sou daqueles que falas precisamente... aqueles que têm medo de "entrar" no mundo de Saramago... À muitos anos que não leio um livro do autor, li Memorial do Convento e O ano da morte de Ricardo Reis (acho que quase roda a gente leu pelo menos estes dois) e depois não sei muito bem se foi por falta gosto pelos trabalhos de Saramago, se foi pela sua postura sempre irreverente e algo provocadora (que era precisamente o que tinha graça na pessoa) mas nunca mais li nada deste autor. Achas que é por aqui que devo reentrar no seu mundo?

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  6. Olá Nuno Chaves,
    Penso que começaste por dois grandes romances de Saramago.
    Volta-te, agora, para livros mais irreverentes, provocadores, polémicos (sempre) mas... espectacularmente hilariantes.
    Entra no mundo do nosso Nobel, esquece as polémicas e diverte-te. Acredita que se torna viciante.
    Deixo-te quatro sugestões, e fico à espera das tuas opiniões: "Caim"; "A viagem do elefante", "O evangelho segundo Jesus Cristo" (1);Ensaio sobre a lucídez" (2).
    Neste momento estou a reler "As intermitências da morte". Logo te conto...
    Bjs.

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  7. Olá uma vez mais Teresa, assim farei... não prometo que seja em breve, mas... falaremos com certeza melhor sobre este assunto.

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  8. Olá Teresa Dias.
    Também eu estou a começar a ler Saramago agora e confesso que "Caim", tal como "Intermitências da Morte" me causam alguma curiosidade. Li agora "A jangada de Pedra" que apesar de ter gostado não adorei, talvez por ter lido primeiramente "O Ano da Morte de Ricardo Reis" que achei absolutamente fantástico. Uma vez que o meu pai ofereceu-me o "Memorial do Convento" vai ser o próximo que vou ler dele mas as sugestões que deu ao Nuno Chaves vão de certeza servir também para mim.
    Beijinhos

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    1. Olá Landa,
      Acredita que "A jangada de pedra" também não me agradou.
      Tu vais gostar do "Memorial do Convento". Lê-o com calma,não desanimes nas primeiras páginas,continua, continua. Como por magia, ficarás viciada na história de Baltazar e Blimunda. E não mais a esquecerás.
      Fico à espera da tua opinião.
      Bjs.

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