25 janeiro, 2013

Filme para ver hoje na RTP2 - "O Miúdo da Bicicleta"



Please, please, please... veja hoje (ou grave para ver mais tarde) na RTP2, pelas 22.41 horas, o magnífico filme "O Miúdo da Bicicleta" (Le Gamin au Vélo), realizado pelos irmãos Dardenne.
Foi o filme vencedor do gande prémio do Júri, na edição de 2011 do Festival de Cannes.
Cito o Público , de 25 Janeiro 2013:
Cyril, de 12 anos, foi abandonado pelo pai numa casa de acolhimento para rapazes, sem qualquer explicação. Frágil e revoltado, acaba por se tornar amigo de Samantha, uma cabeleireira a quem ele consegue persuadir em acolhê-lo aos fins de semana. Decidido a encontrar o pai, o rapaz convence-a a procurá-lo, crente de que encontrará a explicação que precisa para aquele afastamento. Porém, nem tudo acontece como previsto e Cyril vai ter de aprender a receber o amor de Samantha e encontrar novas razões para continuar...
Fique bem atento à  interpretação de Thomas Doret (Cyril).
Acredite que vai ADORAR!

"Romeu & Julieta - William Shakespeare


Tanto ouvimos falar, infelizmente com demasiada frequência, de histórias onde a palavra amor rima com terror, que vale a pena lembrar “a mais bela história de amor de todos os tempos”.
Encontrei na estante da minha filhota estra tradução de Fernando Villas-Boas, com ilustrações de João Fazenda, numa edição da Oficina do Livro (2007), e, acreditem, foi um verdadeiro caso de amor. “Devorei” a história sem parar, emocionada, deslumbrada.
Muitos já ouviram falar deste romance, talvez até o tenham visto no cinema, mas, acredito que poucos o tenham lido. Vale a pena fazê-lo.

“Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?” (Fernando Pessoa)
Eu sei a resposta, mas, aqui, não digo.

18 janeiro, 2013

"O homem em busca de um sentido" - Viktor R. Frankl


No início deste ano, a minha filha, deu-me duas belíssimas prendas: aparecer de surpresa no dia da passagem de ano para estar connosco dez dias (ela vive em Inglaterra) e este pequeno/grande livro sobre a perda, o sofrimento, a coragem, a descoberta de um novo sentido para a vida, o relato de experiências vividas por milhões de prisioneiras nos campos de concentração nazis, contadas por um sobrevivente.
Esse sobrevivente é Viktor E. Frankl, um brilhante psiquiatra austríaco judeu, que em 1942 perde tudo: a carreira profissional, os pais, o irmão, a mulher, grávida do primeiro filho. Foram deportados para campos diferentes. Ele foi para Auschwitz. Só ele sobreviveu a três anos de verdadeiro terror. Depois da libertação, em 1945, edita este livro/testemunho e dá um novo rumo à sua vida, ao desenvolver e divulgar a Logoterapia.
Como esta história é sobre as minhas experiências enquanto preso vulgar, é importante que refira, não sem certo orgulho, que não fui empregado como psiquiatra no campo, nem mesmo como médico… eu era o número 119.104 e passava a maior parte do tempo a cavar e a colocar carris para linhas férreas.
Trata-se, pois, de uma narrativa autobiográfica, e está dividida em duas partes:
- a primeira parte é o relato da vida nos diversos campos por onde passou.
São histórias dramáticas de desespero, fome, cansaço, tristeza, sofrimento, maus tratos, de extermínio de seres humanos.
Mas são, também, histórias emocionantes de sobrevivência, coragem, partilha, amizade, de busca nas memórias felizes de amarras para a vida.
O meu espírito continuava agarrado à imagem da minha mulher. Um pensamento atravessou-me o espírito: nem sequer sabia se ela ainda estava viva. Só sabia uma coisa – que nessa altura já tinha aprendido bem: o amor vai muito para além da pessoa física do ser amado.
- a segunda parte é uma síntese da doutrina terapêutica desenvolvida por Viktor E. Frankl em Auschwitz - a Logoterapia.
Frankl percebeu que, a tanto sofrimento nos campos de concentração nazis, apenas sobreviviam aqueles que tinham uma razão para continuar a viver.
O preso que perdesse a fé no futuro - o seu futuro - estava condenado. Ao perder a crença no futuro, perdia igualmente o controlo espiritual; deixava-se decair e ficava sujeito a um definhamento físico e mental.
V.E. Frankl ajudou-se a si próprio, recorrendo às memórias da mulher que amava, ao desejo de reescrever o manuscrito sobre a sua doutrina (o original foi confiscado em Auschwitz) e à antevisão da sua divulgação em palestras por todo o mundo.
E citei Nietzsche: “Was mich nicht umbringt, macht mich stärker” (Aquilo que não me mata torna-me mais forte”.
P.S. Obrigada, filhota. Com este testemunho aprendi a  nunca desistir.
O homem em busca de um sentido, de Viktor E. Frankl
Tradução de Francisco J. Gonçalves
Lua de papel, 2012
159 págs.

11 janeiro, 2013

"Os detectives selvagens" - Roberto Bolaño

2 de Novembro
Fui cordialmente convidado para fazer parte do realismo visceral. Evidentemente, aceitei. Não houve cerimónia de iniciação. Antes assim.
3 de Novembro
Não sei bem em que consiste o realismo visceral. Tenho dezassete anos, chamo-me Juan Garcia Madero…
É em jeito de diário que começa este “pesado” romance, de 512 páginas. Um pesado, mas poderoso romance sobre os meandros da literatura, particularmente da poesia mexicana. E, digo-o já, muitíssimo bem escrito.
Os poetas mexicanos (suponho que os poetas em geral) detestam que se lhes relembre a sua ignorância.
Confesso que não foi uma leitura fácil. Parei por diversas vezes, voltei, parei de novo, voltei e terminei. Ufa!
O romance está dividido em três partes.
A primeira e a terceira partes são o diário de Garcia Madero, órfão, estudante de Direito, leitor e escritor compulsivo de poesia. Um diário recheado de descobertas literárias (todos os livros do mundo estão à espera que eu os leia), discussões à volta dos poetas mexicanos (…há que mudar a poesia mexicana. A nossa situação é insustentável, entre o império de Octávio Paz e o império de Pablo Neruda. O que equivale a dizer: entre a espada e a parede), leitura de poesia (a poesia… é assim: deixa-se pressentir, anuncia-se no ar, como os terramotos), muitas faltas às aulas, deambulações por cafés, conversas infindáveis, roubo de livros, tráfico de marijuana, experiências sexuais, amores, mortes, assassinatos, fugas e muito, muito humor.
Madero inicia o diário meses antes da partida para o deserto de Sonora com os poetas Arturo Belano e Ulisses Lima, os detectives selvagens, em busca dos verdadeiros real visceralistas e de pistas sobre o misterioso desaparecimento (político?) da poetisa Cesária Tinajero, logo a seguir à Revolução.
Será uma viagem tumultuosa, de consequências trágicas, que obrigará Arturo Belano e Ulisses Lima a fugir do país.
Essa fuga errática, de duas décadas, constitui a segunda parte do romance (341 págs.), e é composta por histórias desconcertantes sobre Belano e Lima - os dois poetas desesperados, fundadores do “real visceral” -, contadas por 52 excêntricos personagens, que com eles se cruzaram em locais longínquos como Israel, África, Espanha, França, Estados Unidos.
Há escritores aziagos, azarentos, dos quais mais vale fugir, pouco importa que se acredite ou não na má sorte, pouco importa que seja positivista ou marxista, dessa gente há que fugir como da peste negra.
Eu não fugi deste ENORME Bolaño, e ainda bem.
23 de Dezembro
Hoje não se passou nada. E, se alguma coisa se passou, o melhor é nem falar nisso, porque não percebi nada.
Mentira!
 
Os detectives selvagens, de Roberto Bolaño
Ed. Teorema, 2008
Tradução de Miranda das Neves
512 págs.

08 janeiro, 2013

Desafio nº 13 - Histórias de uma família, contadas com cheiro a mar. Memórias tristes de infância e busca de destinos felizes. Quem escreveu?

Quem não teve a sorte de viver a sua infância e não possa recordá-la com gratidão dificilmente aceitará que o corpo e a alma tenham uma idade bem definida. Penso-o por mim, sempre que ao espelho olho o branco amarelado do meu cabelo, o costume de franzir as sobrancelhas e enrugar a testa e a maneira como estou falando comigo e a minha é a voz dum homem zangado com a vida. A minha wife não sabe, nunca há-de saber por que motivo falo com ela mas não olho para ela. Os nossos filhos, sempre que peleijo com eles, encolhem-se, tremem de medo, pensando que a voz é do tamanho do corpo. Nunca bati em nenhum dos meus pequenos. Prometi olhar sempre para o meu passado e pensar duas vezes antes de castigar um filho meu. Educá-los pelo respeito e não pelo medo, bem ao contrário do meu pai, esteve sempre na primeira linha das minhas intenções.
 
Ajuda se eu disser que foi escrito na língua de Camões?
Ajuda se eu disser que ao lê-lo experienciamos sons, cores, cheiros, dores, lágrimas, sorrisos?
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Resposta do Desafio nº 12:
Acho que foi demasiado fácil chegar às “Memórias de uma menina bem-comportada”, de Simone de Beauvoir, publicadas em 1958.
Parabéns para quem acertou.

04 janeiro, 2013

Balanço de 2012 do "rol de leituras"

No final de mais um ano volto a elaborar a lista dos livros que me entusiasmaram,  me ensinaram, me ajudaram a ultrapassar os momentos menos bons da vida. Não se vendem nas farmácias estas pílulas da felicidade. Só nas livrarias. Pena é que sejam cada vez mais caras.
Este foi um ano de muitas e boas leituras, de descoberta de excelentes contistas, de descoberta de quem escreve, e bem, na minha língua.
Este foi também um ano de excelentes releituras. Só se relê o que gostámos, não é verdade?
1. O meu top +
Apesar de este ano ter dado poucas Notas Máximas, destaco doze óptimos livros: 
. Até ao fim da terra, de David Grossman
. Contos escolhidos, de Guy de Maupassant
. Este país não é para velho, de Cormac McCarthy
. Middlesex, de Jeffrey Eugenides
. Némesis, de Philip Roth
. O amor nos tempos da cólera, de Gabriel García Márquez
. O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago
. O evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago
. O sentido do fim, de Julian Barnes
. O teu rosto será o último, de João Ricardo Pedro
. Os despojos do dia, de Kazuo Ihiguro
. Siddhartha, de Hermann Hesse
2.  Descoberta de novos escritores
Não foram muitos os escritores que descobri este ano, mas foram bons e, portanto, destaco-os:
. Carla M. Soares
. David Grossman
. David Vann
. Herta Müller
. Jennifer Egan
. João Ricardo Pedro
. Mia Couto
. Orhan Pamuk
. Penelope Fitzgerald
3.  Reli e redescobri
Foi, na verdade, um ano de muitas releituras. Tal permitiu-me redescobrir excelentes autores “perdidos” na minha estante:
. António Alçada Baptista
. Cormac McCarthy
. David Mourão-Ferreria
. Gabriel García Márquez
. Isabel Allende
. John Updike
. Jorge Amado
. José Manuel Saraiva
. Kazuo Ishiguro
. Marguerite Duras
. Susanna Tamaro
O que irei ler no próximo ano?
Não sei.
Sei apenas que irei ler poucas novidades e procurar na  minha estante mais livros para reler. O que vale é que ela esconde verdadeiros tesouros.
Adiante… bom ano para todos com excelentes leituras.
Vivam os livros!