10 fevereiro, 2012

"Este país não é para velhos" - Cormac McCarthy

Cada momento nas nossas vidas é uma encruzilhada e é também uma escolha. Fizeste algures uma escolha. Tudo o que veio a seguir conduziu a isto. A contabilidade é rigorosa. A forma está traçada. Não se pode apagar nem uma só linha.
Assim que eu entrei na tua vida, a tua vida terminou. Teve um começo, um meio e um fim. O fim é agora. Dirás que as coisas podiam ter sido diferentes. Que podiam ter corrido de outra maneira. Mas o que é que isso significa? As coisas não correram de outra maneira. Correram desta. Estás a pedir-me que desminta o mundo. Percebes?
Sim, disse ela, a soluçar. Percebo. A sério que percebo.
Ainda bem, disse ele. Óptimo. Depois deu-lhe um tiro.
É com palavras que Chiguhr tortura as suas vítimas antes de as matar. Com palavras e com uma moeda, que manipula para ditar o destino de cada um: Cara ou Coroa?
A história deste violento, misterioso e alucinante romance de Cormac McCarthy passa-se no final dos anos setenta, na fronteira do Texas com o México, numa zona de actuação dos traficantes de droga.
Desta vez Cormac McCarthy leva-nos ao amago do confronto entre o BEM (o velho e desiludido xerife Bell), e o MAL (Chiguhr um psicopata amoral, violento, tresloucado, um profeta da destruição), num país à deriva.
Tudo começa quando Llewelyn Moss, numa das suas saídas para a caça, encontra uma carrinha cheia de cadáveres, um carregamento de heroína e uma pasta com dois milhões de dólares.
Tinha ali a sua vida inteira… tudo resumido a dezoito quilos de papel dentro de uma mala.
Moss apodera-se do dinheiro e esse acto dá início a uma cadeia de reações de violência, que nem a lei consegue controlar.
Anton Chiguhr é contratado para recuperar o dinheiro e a caça ao homem deixa-nos sem fôlego.
Quem é Chiguhr?
Ninguém sabe, pois quem o vê não vive o suficiente para contar.
Do lado da lei está o velho xerife Bell, à beira da reforma, que num monólogo perturbador (em capítulos autónomos escritos em itálico) nos fala da sua vida pessoa e profissional. Bell, xerife desde os 25 anos, é um homem honesto, trabalhador, impotente para controlar a violência que grassa no seu condado e horrorizado com o estado a que chegou o país.
As pessoas dizem que foi o Vietname que pôs este país de rastos. Mas eu nunca acreditei nisso. O país já estava em muito mau estado.
O xerife Bell persegue o assassino Chiguhr, uma perseguição inglória pois: Ele é um fantasma. Mas anda por aí à solta.
Considero o xerife Bell o principal personagem deste livro de Cormac McCarthy.
A história da sua vida é um romance dentro de outro romance. Fantástico!
Já no filme dos irmãos Cohen, com o mesmo nome, o principal papel pertence a Anton Chiguhr (espantosamente interpretado por Javier Bardem) e o xerife tem um papel secundário.
Prefiro a versão do livro.
Só no fim da vida é que conseguimos ver-nos tal como realmente somos e, ainda assim, podemos enganar-nos. Pus-me a pensar porque é que quis pertencer às forças da ordem. Quis que as pessoas dessem ouvidos ao que eu tinha para dizer. Mas havia outra parte de mim que desejava somente puxar todos os náufragos para dentro do salva-vidas.
Já li. Já reli. Voltarei.

Este país não é para velhos, de Cormac McCarthy
Relógio d´Agua, 2007
Tradução de Paulo Faria
226 págs.

8 comentários:

  1. "Nas Trevas Exteriores", do mesmo autor, está a caminho de casa... Talvez na segunda-feira chegue! ;)

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  2. Vi o filme e detestei! Nada me convence a ler o livro... por muito fabulosos que possa ser! ;)

    Beijocas!

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  3. Continuo com essa lacuna, a de ainda não ter lido Cormac McCarthy.

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  4. André,
    Vi que já o recebeste agora força.

    Teté,
    Acredita que o livro é muitissimo melhor que o filme.

    Tiago,
    Ainda vai a tempo... Acredite que é um autor viciante. Depois me dirá.

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  5. Cormac McCarthy - fabuloso.
    "Este país não é para velhos" - que livro!

    Este autor é uma coisa ciclópica!

    Absolutamente absorvente, demoníaca.

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  6. Tenho para reler nas próximas semanas "Suttree", aquele que é considerado o mais autobiográfico do autor, publicado originalmente em 1979. São cerca de 500 páginas de puro delírio e perturbante tristeza. Vai ser bom recordar.

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  7. Querida Teresa, no meu estado de espirito atual, (alegre), só quero ler amenidades, sem stress mesmo os fictícios.
    Mil beijinhos,
    Léah

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