30 junho, 2011

"Liberdade" - Jonathan Franzen


Se Patty não fosse ateia, teria agradecido ao bom Deus pelos programas atléticos escolares, porque foram estes que praticamente lhe salvaram a vida, e lhe deram uma oportunidade para se realizar como pessoa.
Patty cresceu em Westchester County, no estado de Nova Iorque. Era a mais velha de quatro irmãos. Era perceptivelmente Maior do que todos os outros, também Menos Invulgar, e até certo ponto Mais Burra. Não verdadeiramente burra, mas relativamente mais.
Curiosa, depois de tantas críticas favoráveis que li, não me assustei com as 684 páginas e parti à descoberta da história da família Berglund: Patty, Walter e os filhos Joey e Jessica.
Patty, filha de um advogado e humorista amador e de uma democrata profissional, antiga basquetebolista, excelente vizinha, dona de casa exemplar, mãe perfeita e a mulher dos sonhos de Walter. Acabada como jogadora universitária encontra forma de continuar a ganhar, casando com o “tipo mais simpático do Minnesota, viver numa casa maior, melhor e mais interessante do que qualquer outra pessoa da sua família”.
Walter, filho de pai alcoólico e mãe deficiente, homem sensível, intelectual, ambientalista, ciclista, advogado de sucesso, homem de família dedicado.
Joey, o filho problemático, rebelde.
Jessica, a filha responsável.
Os pais estão programados para quererem o melhor para os filhos, independentemente daquilo que obtêm em troca. É suposto o amor ser assim, certo?
É à volta desta família que se desenvolve a narrativa deste romance, uma família da classe média, na América da primeira década do século XXI, com as suas obsessões, sucessos e revezes.
Há, ainda, muitas outras personagens bem construídas neste retrato: familiares presentes e ausentes, amigos perfeitos e imperfeitos.
É bom ter amigos na vida. Se queres ter amigos, tens de te lembrar que ninguém é perfeito.
Neste romance, já considerado “o grande romance americano”, o autor tece um retrato minucioso do quotidiano americano, dramático e ao mesmo tempo irónico, realçando temas como a amizade, o amor, o casamento, o ciúme, a vizinhança, a adolescência, a vingança, as drogas, o adultério, a violação, a guerra, o terrorismo, a política, a liberdade e muitos, muitos mais.
Gira tudo à volta do mesmo problema: as liberdades pessoais. As pessoas vêm para este país por causa do dinheiro ou da liberdade. Se não tiveres dinheiro, agarras-te ainda mais avidamente às tuas liberdades.
Não me assustei com o tamanho, mas… não me entusiasmei com a leitura.
 
 
Liberdade, de Jonathan Franzen
Dom Quixote, 2011
Tradução de Maria João Freire de Andrade
684 págs.

27 junho, 2011

"As loucuras de Brooklyn" - Paul Auster

Eu andava à procura de um sítio sossegado para morrer. Houve alguém que me recomendou Brooklyn, de maneira que, na manhã seguinte, viajei de Westchester até Brooklyn para fazer uma espécie de reconhecimento do terreno.

Eis o início deste interessante livro de Paul Auster, que li em 2006 e agora reli com bastante agrado.
Nathan, narrador e personagem principal deste romance, “quase a bater à porta dos sessenta”, divorciado, vendedor de seguros reformado, a recuperar de um cancro nos pulmões, regressa a Brooklyn, para encontrar uma maneira de começar a viver de novo e fugir à rotina.
Idealiza vários projectos e decide-se pela escritura e compilação de pequenas histórias, para um livro que chamará “O Livro da Loucura Humana”, sobre “todas as asneiras, todos os lapsos humilhantes, todas as situações embaraçosas, todos os disparates que marcaram a minha longa e acidentada carreira como homem”.
Uma dessas histórias é sobre o reencontro, numa livraria de Brooklyn, com o seu sobrinho Tom - a promessa de um especialista em literatura norte-americana que, depois de conduzir um táxi, acabou a vender livros usados.
“Ambos estávamos sós, nenhum de nós andava com uma mulher, e nenhum de nós tinha muitos amigos (no meu caso nem um só)”.
Esse reencontro irá mudar a vida de ambos. E de que forma…
Paul Auster brinda-nos, depois, com um rol de personagens inesquecíveis, numa narrativa cativante, precisa e por vezes hilariante, sobre as relações humanas, no intervalo temporal da polémica eleição de Bush e o dia em que “o fumo de três mil corpos incinerados seria levado pelo vento até Brooklyn”.
Depois de “O Livro da Loucura Humana” Nathan tem uma nova ideia “a mais importante de todas as ideias que jamais tivera”: criar uma empresa que publicaria biografias pequenas e privadas sobre os esquecidos, para evitar que depois da morte de uma pessoa, todos os traços dessa vida, todas as histórias, factos e documentos desapareçam.
Era loucura sonhar com a concretização de um projecto tão ousado? A mim não me parecia.
Nunca se deve subestimar o poder dos livros.
Paul Auster – genial!

As loucuras de Brooklyn, de Paul Auster
Edições ASA, 2006
Tradução de José Vieira de Lima
299 págs.

19 junho, 2011

Pétalas de sabedoria...


Descobri que, à medida que vou envelhecendo, amo mais todos aqueles que amei primeiro.



Thomas Jefferson
Presidente norte-americano (1762-1826)

09 junho, 2011

"Trava-línguas" - Luisa Costa Gomes

Divertido este livrinho (que descobri na estante da minha filhota) com pequenos textos que jogam com os sons de palavras difíceis de dizer, especialmente se forem ditas muito depressa.
Experimente ler em voz alta num grupo de amigos. É diversão certa!

Trava-línguas, de Luisa Costa Gomes
Ilustrações de Jorge Nesbitt
Dom Quixote, 2006
33 págs.

05 junho, 2011

"40 anos de servidão" - Jorge de Sena

A Portugal
Esta é a ditosa pátria minha amada.
Não, nem é ditosa porque o não merece,
nem minha amada, porque é só madrasta
nem pátria minha, porque eu não mereço
a pouca sorte de ter nascido nela.
Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
Quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela
Saudosamente nela,
Mas amigos são por serem meus amigos
e mais nada.
Torpe dejecto de romano império,
Babugem de invasões,
Salsujem porca de esgoto atlântico,
Irrisória face de lama, de cobiça e de vileza,
De mesquinhez, de fátua ignorância.
Terra de escravos, de cú para o ar,
Ouvindo ranger no nevoeiro a nau do Encoberto.
Terra de funcionários e de prostitutas,
Devotos todos do Milagre,
Castos nas horas vagas, de doença oculta.
Terra de heróis a peso de ouro e sangue,
E santos com balcão de secos e molhados,
No fundo da virtude.
Terra triste à luz do Sol caiada,
Arrebicada, pulha,
Cheia de afáveis para os estrangeiros,
Que deixam moedas e transportam pulgas
(Oh!, pulgas lusitanas!) pela Europa.
Terra de monumentos
em que o povo assina a merda
o seu anonimato.
Terra-museu em que se vive ainda
com porcos pela rua em casas celtiberas.
Terra de poetas tão sentimentais
Que o cheiro de um sovaco os põe em transe.
Terra de pedras esburgadas,
Secas como esses sentimentos
De oito séculos de roubos e patrões,
Barões ou condes.
Oh! Terra de ninguém, ninguém, ninguém!
Eu te pertenço.
És cabra! És badalhoca!
És mais que cachorra pelo cio!
És peste e fome, e guerra e dor de coração!
Eu te pertenço!
Mas seres minha, não!

01 junho, 2011

Pétalas de sabedoria...

Dia Internacional da Criança

"Amanhã fico triste,
Amanhã.
Hoje não.
Hoje fico alegre.
E todos os dias,
por mais amargos que sejam,
Eu digo:
Amanhã fico triste,
Hoje não.
Para hoje e todos os outros dias!"


Encontrado na parede de um dormitório de crianças, no campo de extermínio nazi de Auschwitz.