31 maio, 2011

Sumário de leituras

Li ou reli em Maio 2011
. A Humilhação, de Philip Roth
. Teatro de Sabbath, de Philip Roth
. Património, de Philip Roth
. Traições, de Philip Roth
. Indignação, de Philip Roth
. Casei com um comunista, de Philip Roth
. O animal moribundo, de Philip Roth
. O fantasma sai de cena, de Philip Roth
. A mancha humana, de Philip Roth
. O complexo de Portnoy, de Philip Roth
. Todo-o-Mundo, de Philip Roth
. Pastoral americana, de Philip Roth
. A conspiração contra a América, de Philip Roth

30 maio, 2011

"A conspiração contra a América" - Philip Roth

O medo preside a estas memórias, um medo perpétuo. Embora infância alguma esteja isenta dos seus terrores, pergunto-me se teria sido um rapaz menos assustado se Lindbergh não tivesse sido presidente ou se eu não tivesse sido filho de judeus.
Se… se… se…
O que aconteceria a um milhão de famílias judias se a história da América tivesse sido diferente?

Sinopse: Quando o famoso herói da aviação e isolacionista fanático Charles Lindbergh derrotou esmagadoramente Franklin Roosevelt nas eleições presidenciais de 1940, o medo invadiu todos os lares judaicos da América. Num discurso transmitido pela rádio à escala nacional, Lindbergh não só tinha acusado publicamente os judeus de empurrarem egoistamente a América para uma guerra sem sentido com a Alemanha nazi, mas também, ao tomar posse como trigésimo terceiro presidente dos Estados Unidos, negociara um pacto cordial com Adolfo Hitler, cuja conquista da Europa e cuja virulenta política anti-semita ele parecia aceitar sem dificuldade.

Partindo dum cenário hipotético, Philip Roth, assim se designa o narrador e personagem deste romance, recorda o que foi para a sua família de Newark e para um milhão de outras famílias, a vida nos anos da presidência de Lindbergh.
Eu prestava fidelidade à bandeira da nossa pátria todas as manhãs na escola. Festejava fervorosamente os seus feriados nacionais. A nossa pátria era a América. Depois os Republicanos designaram Lindbergh e todo mudou.

A conspiração contra a América, de Philip Roth
Dom Quixote, 2005
Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues
451 págs.

28 maio, 2011

"Pastoral americana" - Philip Roth

… o compreender as pessoas não tem nada a ver com a vida. O não as compreender é que é a vida, não compreender as pessoas, não as compreender, e depois, depois de muito repensar, voltar a não as compreender. É assim que sabemos que estamos vivos: não compreendemos.

Quem está preparado para a tragédia e para a incompreensão do sofrimento? Ninguém. A tragédia do homem que não está preparado para a tragédia – é esta a tragédia de todos os homens.
Sinopse: Seymour (Sueco) Levov, um lendário atleta universitário, devotado homem de família, trabalhador esforçado e próspero herdeiro, envelhece na triunfante América do pós-guerra, vendo esfumar-se tudo o que ama quando o país começa a efervescer nos turbulentos anos 60. Nem o mais tranquilo e bem-intencionado cidadão consegue escapar à vassourada da história, nem o Sueco pode permanecer para sempre na felicidade da amada e velha quinta em que vive com a sua bela mulher e a filha, que se torna uma revolucionária terrorista apostada em destruir o paraíso do seu pai. A inocência de Sueco Levov é varrida pelos tempos – como tudo o que foi criado pela sua família, através de gerações, deitado por terra na violenta explosão de uma bomba no seu bucólico quintal.

Neste livro, Nathan Zuckerman, o aspirante a escritor e alter-ego de Philip Roth, revela o percurso da destruição da vida da família de Sueco Levov, filho de judeus ricos, atleta brilhante, profissional de sucesso, casado com a Miss New Jersey e pai de uma filha.
A filha, a quarta geração americana, que deveria ser a imagem aperfeiçoada de ele próprio, como ele fora a imagem aperfeiçoada do seu pai… a filha terrorista, enraivecida, colérica, que o obriga a esconder-se como um fugitivo, a filha que o leva para fora da sonhada pastoral americana.
Porquê?
O que lhe teria ele feito de tão mau? Seria o resultado daquele beijo?
Fenomenal!

Pastoral americana, de Philip Roth
Dom Quixote, 1999
Tradução de Maria João Delgado e Luísa Feijó
410 págs.

26 maio, 2011

"Todo-o-Mundo" - Philip Roth


A velhice não é uma batalha a velhice é um massacre.
Atenção, se pretende iniciar-se na leitura de Philip Roth e é facilmente impressionável quando o tema é envelhecimento, doenças, mortes e enterros, este não é o livro aconselhável.
Ou será?
A grandeza de um escritor mede-se quando estes temas dramáticos são narrados de forma magistral, sem cair em excessos fúnebres. É claro que causa desconforto no leitor mas o principal é conseguido, deixá-lo a pensar na maior das angústias da vida: a morte.
A história inicia-se com o funeral do protagonista, um homem sem nome (everyman) e termina com a sua morte, quando ele “deixou de existir, liberto do ser, entrando no nada sem sequer saber” aos 71, de paragem cardíaca, na sala de operações, quando o preparavam para a desobstrução da carótida direita, mais uma (e a última) a acrescentar às muitas operações a que foi sujeito ao longo da vida: hérnia, amígdalas, apendicite e peritonite, obstrução das artérias coronárias, obstrução da artéria renal, angioplastias, implantação de desfibrilhador.
Mas as doenças relatadas não são só as do protagonista: o pai teve uma peritonite, a mãe faleceu na sequência de um AVC, a amante sofre de enxaquecas, uma das ex-mulheres (teve 3) sofreu um AVC, um colega com problemas psiquiátricos.
Para além da morte do protagonista há mais cinco mortes neste pequeno romance: o pai (cujo funeral é descrito com detalhe), dois colegas da agência de publicidade onde trabalhou, duas alunas das suas aulas de pintura.
Para além de doenças e mortes o autor brinda-nos com o relacionamento do protagonista (nascido em 1933, em New Jersey), com os pais que admira, o irmão Howie que ama e inveja (?), as três mulheres, os dois filhos, do primeiro casamento, que o desprezam, Nancy a filha do segundo casamento, que o adora, as enfermeiras, os colegas da agência de publicidade, os alunos das suas aulas de pintura, o coveiro.
Que livro maravilhoso sobre a amizade, o amor, a vida e a morte.
O título original deste livro é “Everyman”. O autor foi buscá-lo a uma peça de teatro alegórico de um autor anónimo do século XV, um clássico da dramaturgia inglesa antiga, que tem por tema a chamada dos vivos à presença da morte.

Todo-o-Mundo, de Philip Roth
Dom Quixote, 2006
Tradução de Francisco Agarez
179 págs.

24 maio, 2011

"O complexo de Portnoy" - Philip Roth

Senhor Doutor, que nome é que dá a esta doença que eu tenho? Será o sofrimento judaico de que tantas vezes ouvi falar?”
“Sou o filho da anedota de judeus – só que não é anedota nenhuma! Esta gente é inacreditável… aqueles dois são os maiores produtores e distribuidores de culpa do nosso tempo. Conseguem-me fazer acumular culpa como uma galinha acumula gordura”.
Neste romance Philip Roth brinda-nos com um retrato assombroso/hilariante/humilhante (sempre a HUMILHAÇÃO) sobre a passagem da adolescência à idade adulta do judeu Alexander Portnoy.
Escrevi sobre "O complexo de Portnoy" em Dezembro 2010.

23 maio, 2011

Pétalas de sabedoria...

Quem entender a minha música nunca mais será infeliz.


Ludwig Beethoven
Compositor alemão (1770-1827)

20 maio, 2011

"O fantasma sai de cena" - Philip Roth


Há onze anos que não ia a Nova Iorque… tinha deixado de habitar não só o grande mundo mas também o momento presente. Mas agora tinha percorrido ao volante os quase duzentos e dez quilómetros para sul até Manhattan para consultar um urologista… especializado num tratamento destinado a ajudar milhares de homens como eu a quem a cirurgia da próstata deixava incontinentes.
Tinha passado estes onze anos sozinho numa casinha à beira de uma estrada de terra batida do interior profundo, tendo decidido viver assim isolado de tudo uns dois anos antes de me ser diagnosticado o cancro.
Escrevo durante quase todo o dia e muitas vezes pela noite dentro. Ouço música, passeio pelos bosques, nado sem fato de banho…
Não faço sessões de leitura nem conferências nem dou aulas em nenhuma faculdade nem apareço na televisão.
Que diferença faz agora se sou incontinente e impotente?
Sinopse: Percorrendo as ruas (de Nova Iorque) como uma alma penada, depressa estabelece três relações que fazem explodir a sua solidão tão cuidadosamente protegida.
Uma é com um jovem casal com o qual, num momento irreflectido, se propõe fazer uma permuta de casas. Eles trocarão a Manhattan do pós 11 de Setembro pelo seu refúgio no interior e ele regressará à vida urbana. Mas a partir do momento em que os conhece, Zuckerman quer também trocar a sua solidão pelo desafio erótico da jovem mulher, Jamie, que o atrai a ponto de o fazer voltar a tudo quanto pensava ter deixado para trás: a intimidade, o jogo vibrante do coração e do corpo.
A segunda relação é com uma figura da juventude de Zuckerman, Amy Bellette, companheira e musa do primeiro herói literário de Zuckerman, E.I. Lonoff. Outrora irresistível, Amy é agora uma velha minada pela doença, guardiã da memória desse escritor americano de nobre austeridade, que apontou a Nathan o caminho solitário para uma vocação de escritor.
A terceira relação é com o aspirante a biógrafo de Lonoff, um jovem mastim literário, pronto a fazer e dizer praticamente tudo o que for preciso para chegar ao «grande segredo» de Lonoff.
Que romance extraordinário sobre o amor, a velhice, a doença, o desejo e o ressentimento.
Da primeira à última página a escrita de Philip Roth é tão perfeita e intensa que só apetece citar, citar, citar.
E se certa manhã pegasse na página que tinha escrito na véspera e não conseguisse lembrar-me de a ter escrito, que faria? Que iria restar de mim?
Fabuloso!
O fantasma sai de cena, de Philip Roth
Dom Quixote, 2008
Tradução de Francisco Agarez
285 págs.

18 maio, 2011

Prémio Internacional Booker de 2011

O romancista norte-americano Philip Roth foi galardoado com o Prémio Internacional Booker de 2011, que de dois em dois anos distingue um autor pelo conjunto da sua obra.



"A mancha humana" - Philip Roth


"Foi o Verão da América em que a náusea regressou, em que as chalaças não pararam, em que a especulação, a teorização e a hipérbole não pararam, em que a obrigação moral de explicar aos filhos a vida adulta foi revogada pela vontade de lhes conservar todas as ilusões a respeito da vida adulta, em que a pequenez das pessoas era simplesmente esmagadora, em que um demónio qualquer fora largado à solta na nação e, em ambos os lados, as pessoas perguntavam: "Por que somos tão loucos?", em que tanto homens como mulheres, ao acordarem de manhã, descobriram que durante a noite, num estado de sono que os transportava para além de toda a repugnância, tinham sonhado com a impudência de Clinton."
Escrevi sobre "A mancha humana" em Dezembro 2010.

16 maio, 2011

"O animal moribundo" - Philip Roth


Por muito que saibamos, por muito que pensemos, por muito que maquinemos, compactuemos e planeemos, não somos superiores ao sexo.
As pessoas pensam que ao amar se tornam inteiras, completas? A união platónica das almas? Eu não penso assim. Penso que estamos inteiros antes de começarmos. E o amor fractura-nos.
Este espantoso romance sobre a vida, a morte, o sexo, a amizade, a família e a doença, é narrado por David Kepesh, um dos dois alter-egos do autor, aqui um eminente crítico cultural da TV, conferencista de mérito e professor universitário, divorciado, pai ausente, a viver desbragadamente a liberdade sexual conquistada com a revolução cultural dos anos 60.
Kepesh, que se considera muito vulnerável à beleza feminina, tem como “gozo da vida” seleccionar no primeiro dia de aulas uma aluna para ter “um caso” no final do ano lectivo, seguindo um estratagema de sucesso: após o exame final, e só depois de conhecidos os resultados, oferece uma festa aos estudantes no seu luxuoso apartamento, fica a sós com a rapariga escolhida e… tudo acontece. É um jogo puramente sexual. Nada mais. Todos os anos aparecem jovens lindas nas suas aulas.
Até que, aos sessenta e dois anos a escolha recai sobre Consuela Castillo, vinte e quatro anos, americana de origem cubana, que “sabia o que o seu corpo valia” e que, logo na primeira noite que passam juntos, define as regras e assume que aquela relação não pode passar do cariz sexual.
Nada mais será igual.
A vida de Kepesh desmorona. Deixa de ser a pessoa confiante. Fica próximo da loucura, controlador, ansioso, neurótico.
“O ciúme: esse veneno. A incerteza. O medo de a perder mesmo quando estava em cima dela. Obsessões que, em toda a minha variada experiência, nunca conhecera”.
Um ano e meio depois ela termina de forma abrupta a relação.
Ele começa a sentir-se velho. Recorda o seu divórcio e o afastamento do filho. Desabafa com George, o seu maior amigo.
O tempo passa. Ele tem novas namoradas. A doença e a morte giram à sua volta: George morre, Consuela telefona-lhe para lhe comunicar que está gravemente doente. O que fará ele?
Philip Roth foi buscar ao poema “Death” de William Butler Yeats, o título para este romance “The Dying Animal”.
Fabuloso!
O animal moribundo, de Philip Roth
Dom Quixote, 2006
Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues
131 págs.

14 maio, 2011

Pétalas de sabedoria...


Foi em pleno inverno que aprendi que há em mim um verão invencível.

Albert Camus
Escritor francês (1913-1960)

11 maio, 2011

"Casei com um comunista" - Philip Roth


Na sociedade humana, pensar é a maior de todas as transgressões.

"Esta é a história da ascensão e queda de Ira Ringold, uma popular estrela da rádio, que vê a sua vida pessoal e profissional destruída na era da caça às bruxas de McCarthy. Nos seus dias de glória casa com a famosa estrela de cinema mudo, Eve Frame. O idílio romântico é breve e o seu casamento transforma-se num drama de lágrimas e traições, passando da esfera privada a escândalo nacional, quando Eve faz revelações estrondosas a um colunista, denunciando o seu marido como espião comunista e sabotador.”

“Casei com um comunista” é o título do livro autobiográfico que Eve Frame – uma judia “patologicamente envergonhada” - vai publicar e no qual denuncia Ira, o marido judeu que luta pelos ideais marxistas.
Mas o que a levou a escrever tal livro?
A resposta é dada pelo escritor Nathan Zuckermann (alter-ego) de Philip Roth) e surge na sequência do encontro com o seu antigo professor de inglês Murray Ringold, então com noventa anos, irmão de Ira, o seu ídolo de infância, morto há mais de 30 anos.
Murray conta-lhe tudo acerca da vida privada do irmão, aniquilado de forma brutal por causa das suas convicções, e de como ele próprio foi afectado ao ser destituído do cargo de professor por se recusar a cooperar com a Comissão da Câmara de Actividades Antiamericanas, e se tornou vendedor de aspiradores de porta em porta, até conseguir a reintegração.
E Nathan fica a saber que não conseguiu obter uma bolsa quando acabou o liceu, por ser amigo de Ira.
“Foi assim que o passado me revisitou”, diz Nathan.
Vivia-se “a conturbada época do pós-guerra, quando a febre do anticomunismo não só contaminava a política nacional mas também a intimidade das vidas de amigos e famílias, maridos e mulheres, pais e filhos”, a chamada “caça às bruxas”.
Gostei e aprendi muito sobre a história da América, na passagem dos anos 40 para os anos 50. Magistral!

Casei com um comunista, de Philip Roth
Dom Quixote, 1999
Tradução de Ana Maria Chaves
365 págs.

"Indignação" - Philip Roth


Cresci com sangue – com sangue e sebo e afiadores de facas e máquinas de cortar carne e dedos amputados ou dedos a que faltavam partes nas mãos dos meus três tios e do meu pai – e nunca me habituei a isso e nunca gostei disso.

A história passa-se em Newark, New Jersey, nos anos 50, vivia-se a terrível e sangrenta Guerra da Coreia (1951-1953).
O narrador é Marcus Messner – para quem “indignação” é a palavra preferida do dicionário, 19 anos, filho único de um talhante kosher , um estudante responsável, diligente e aplicado que se revolta contra a excessiva preocupação do pai com a sua segurança e, no segundo ano da faculdade, decide ir estudar para bem longe de casa. “Fui-me embora porque de repente o meu pai não confiava sequer na minha capacidade de atravessar a rua sozinho. Fui-me embora porque a vigilância do meu pai se tinha tornado insuportável. Tinha de me afastar dele antes que o matasse – e foi isso que disse desabridamente à minha mãe incrédula.
Então porquê tudo isto, pai? Por causa da vida, em que o mais pequeno passo em falso pode ter consequências trágicas. Oh, caramba, o pai parece um bolinho da sorte a falar!”
Empenha-se ao máximo. Não entra para nenhuma das “fraternidades” da faculdade. Isola-se. Vai às aulas. Estuda e trabalha numa estalagem ao fim-de-semana. Foge das diversões e da anarquia dos jogos sexuais.
Até que entra em cena uma rapariga – Olivia Hutton, pálida e esguia, de cabelo ruivo escuro, enigmática e sem inibições sexuais.
“Tinha de apalpar a Olivia porque apalpá-la era o único caminho a seguir se queria perder a virgindade antes de acabar a universidade e de ir para a tropa.”Aí estava mais um objectivo… atingido.
Mas, a partir daí, tudo se desmoronou.
Romance fabuloso sobre o inconformismo na adolescência, a imaturidade, a descoberta sexual, a vulnerabilidade do indivíduo, o descrédito da religião, a procura de um caminho no meio das tradições e restrições, numa América em guerra na Coreia.
Indignação, de Philip Roth
Dom Quixote, 2009
Tradução de Francisco Agarez
175 págs.

09 maio, 2011

"Traições" - Philip Roth


Traições” é um livro brilhante, um provocador romance sobre a vida erótica.
É a história de um americano casado, de meia-idade, chamado Philip, que vive em Londres, e uma inglesa casada, que é a sua amante. No seu esconderijo, revelam-se minuciosamente um ao outro (e a nós), enquanto falam antes e depois de fazerem amor. Ao lermos um diálogo preciso, espantoso, de uma exactidão alarmante, é como se espiássemos não apenas uma qualquer relação amorosa, mas a ternura e a incerteza que existe em cada uma delas. À medida que o marido adúltero se confronta diariamente com a ansiedade da amante e com as suspeitas da mulher, ouvimos intermitentemente as vozes das mulheres do seu passado, de outros amores e paixões da sua intrincada e confusa vida amorosa. Ou será fantasia sua?
De facto, a fronteira entre as mulheres que imagina e as que recorda não é inteiramente nítida.

Diálogo:
- Na realidade queria almoçar.
- Posso dar-te bocadinhos de coisas.
- Podes?
- Vamos ver se conseguimos arranjar-te qualquer coisa. Está tudo bem lá em casa?
- Está. Tudo óptimo.
- Nada melhor para um casamento do que existir um velho namorado.
- É isso que pensas?
- Queres brincar às realidades?
- Talvez.
Um verdadeiro tratado sobre a intimidade humana, a paixão, amizade, a dedicação, a procura da felicidade, mas também, sobre o adultério, a mentira, a falsidade, a rotina, a falta de diálogo.
É um livro com uma linguagem por vezes chocante, ou não fosse escrito por Philip Roth, mas que aconselho a todos.
Excelente!

Traições, de Philip Roth
Bertrand, 1991
Tradução de Filomena Andrade e Sousa
176 págs.

07 maio, 2011

Pétalas de sabedoria...

. Aprendi com as primaveras a me deixar cortar para poder voltar sempre inteira.
. O segredo do sucesso não é fazer o que se gosta, mas sim gostar do que se faz.
. Hoje desaprendo o que tinha aprendido até ontem e que amanhã recomeçarei a aprender.

Cecília Meireles
Poetisa brasileira (1901-1964)

06 maio, 2011

"Património" - Philip Roth


Sozinho, quando me apetecia chorar, chorava, e nunca me apeteceu tanto fazê-lo como quando retirei do envelope a série de imagens do seu cérebro … aquilo que o levava a pensar do modo rude como pensava, a falar do modo enfático como falava, a raciocinar de modo emotivo como raciocinava, a decidir de modo impulsivo como decidia.

“Património” é a recriação dos últimos anos de vida de Herman Roth, 86 anos, após a morte súbita da mulher e de lhe ter sido diagnosticado um tumor cerebral.
É uma história verdadeira, crua, repleta de amor, medo e dor, onde transparece a admiração do autor pelo pai, judeu teimoso, que trava uma luta desigual com o tumor que o irá matar.
Mas é, também, um poderoso livro de boas e más memórias, de partilha, de preparação para a terrível perda de um progenitor.
Este texto não é ficção e como tal a sua leitura nem sempre é fácil.
Apesar disso gostei MUITO!
Património, de Philip Roth
Dom Quixote, 2008
Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues
214 págs.

04 maio, 2011

"Teatro de Sabbath" - Philip Roth

… uma pessoa é tão temerária como os seus segredos, tão execrável como os seus segredos, tão solitária como os seus segredos, tão sedutora como os seus segredos, tão vazia como os seus segredos, tão perdida como os seus segredos, uma pessoa é tão humana…
“O Teatro de Sabbath” é o relato cruel da crise existencial do fantocheiro Michey Sabbath, um homem de sessenta e quatro anos, obcecado por sexo, judeu, baixo e entroncado, de barba branca, desprovido de atractivos, a envelhecer em todos os aspectos óbvios, após a morte da amante, de longa data, Drenka Balich.
Drenka é doze anos mais nova, uma croata morena a puxar para o baixo, uma mulher pujante, bonita sem ser bela, com um casamento enfadonho, que se deixa seduzir por Sabbath e com ele (e muitos outros) vai viver excitantes e loucas aventuras sexuais.
Afastado da sua arte de fantocheiro devido à artrite e impossibilitado de continuar a leccionar na Oficina de Fantoches nas universidades, depois de desmascarado como degenerado, Sabbath vive monetariamente dependente da segunda mulher Roseanna, professora, alcoólica e assexuada.
Vive, também, cercado pelos fantasmas daqueles que mais o amaram e odiaram: a sua defunta mãe, o irmão morto na II Guerra Mundial e Nikki, a sua primeira mulher, que desapareceu e cujo corpo nunca foi encontrado. Terá sido assassinada? Terá sido Sabbath?
Desolado e só, encena uma série de farsas trágicas que o levam aos limiares da loucura e da extinção.
A leitura deste livro foi, para mim, um pouco maçadora.
Sendo um grande romance acerca da vida, da infidelidade e da morte, não me fascinou o suficiente para o considerar excelente.
Teatro de Sabbath, de Philip Roth
Dom Quixote, 2000
Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues
483 págs.

02 maio, 2011

"A Humilhação" - Philip Roth


Tinha perdido a magia. O ímpeto estava esgotado. Nunca tinha falhado no teatro, tudo quanto tinha feito fora forte e bem-sucedido, e então aconteceu o terrível: deixou de saber representar. Subir ao palco tornou-se uma aflição. O seu talento estava morto.
Assim começa esta farsa de Philip Roth, sobre um actor de grandes papéis - Simon Axler - que aos sessenta e tal anos descobre que não está a representar o papel de alguém que está a desmoronar-se, é ele próprio que está a desmoronar-se, e representar o papel do seu próprio fim, isso é outra coisa, uma coisa transbordante de terror e medo.
Tudo acabou para Simon Axler, um homem que queria viver, interpretando o papel de um homem que queria morrer.
Não consegue voltar aos palcos. Todos os dias pensa no suicídio como solução. A mulher, Victoria, abandona-o e ele fica aterrado com a hipótese de vir a concretizar o acto mais difícil que existe. Telefona ao seu médico e pede-lhe para ser internado num hospital psiquiátrico.
Mais tarde, recuperado da depressão, vive momentos de felicidade junto de Pegeen, lésbica, vinte e cinco anos mais nova, filha de velhos amigos.
Como se estivesse no teatro, vai transformando o aspecto rapazola dela, numa orgia de mimos e gastos. Recupera a confiança, o medo e quer reconstruir a vida.
Mas, tudo acaba quando é trocado por uma mulher.
Incapaz de representar o papel do amante abandonado, incapaz de continuar a gerir fracassos, decide suicidar-se.
Como encontrará coragem? Fingindo que se está a suicidar numa peça, num palco mágico.

O autor voltou aos seus temas habituais: família, idade, morte, sexo.
A relação cheia de riscos e aberrante com Pegeen é descrita de forma genial, hilariante.
A vida é um palco.

Nada tem uma razão válida para acontecer. Perde-se, ganha-se – tudo é capricho. A omnipotência do capricho. A probabilidade da reviravolta. Sim, a imprevisível reviravolta e o seu poder.

A Humilhação, de Philip Roth
Dom Quixote, 2011
Tradução de Francisco Agarez
127 págs.

01 maio, 2011

Maratona de leituras de um só autor


Aqui estou, pronta para iniciar a minha maratona de leitura de obras de Philip Roth.
Veja sobre o autor aqui.
Para a primeira semana de Maio seleccionei os seguintes livros:


Como já disse antes, reler livros é mais fácil e rápido, porque já conhecemos a história. Como alguns já foram lidos há algum tempo, tentarei que a redescoberta me entusiasme para continuar a considerá-lo o meu autor preferido.


Para ler tenho apenas o livro que acabou de chegar às livrarias portuguesas – “A Humilhação”.

Conseguirei?
CLARO QUE SIM...