30 março, 2011

Sumário de leituras



Li ou reli em Março 2011
• O outro homem, de Bernhard Schlink
• A rapariga das laranjas, de Jostein Gaarder
• O amor não espera à porta, de Marisa de Los Santos
• Tão veloz como o desejo, de Laura Esquivel
• A louca da casa, de Rosa Montero
• Cristal da pele, de José Manuel Carreira Marques
• Estrela errante, de J.M. G. Le Clézio

Dou nota máxima:
• A louca da casa, de Rosa Montero
• Estrela errante, de J.M.G. Le Clézio

"O outro homem" - Bernhard Schlink


Como nasce e termina o amor? Que subterfúgios são usados para iludir e desiludir?
Se gosta de ler pequenas histórias, compre este livro.
Nele encontrará sete incríveis histórias sobre o amor, a infidelidade e o peso da culpa.

- A menina e a lagartixa
- A infidelidade
- O outro homem (história já adaptada para o cinema)
- Ervilhas tortas
- A circuncisão
- O filho
- A mulher da bomba de gasolina

Em todas elas os protagonistas são "vítimas da sua época, uma geração urbana desorientada que cai uma e outra vez nas armadilhas do seu próprio passado".
Eu gostei particularmente da terceira e da quarta. 
Em "O outro homem", um homem perde a mulher pouco depois de se ter reformado. Um dia chega uma carta dirigida a ela, de um remetente para ele desconhecido. Descobre, posteriormente, um maço de cartas atado com uma fita vermelha – são cartas de amor. Sente-se, primeiro admirado, depois desamparado, enganado e roubado. O desgosto despedaça em pedaços a sua vida passada. Quem era o outro, o que partilhara a sua mulher com ele? Para atenuar a dor parte em busca de respostas.
Em "Ervilhas tortas", um arquitecto de sucesso e pintor nas horas vagas, tem três mulheres, três famílias, três vidas. Reinventa-se e rapidamente passa de uma para outra vida, até ao dia em que uma crise de apendicite desestabiliza todo o esquema e ele se torna um “homem em queda”.
Como se irão portar as três mulheres? Vão unir-se para cuidar dele?

A vida pode ser uma comédia, uma aventura, um drama.
Leia!

O outro homem, de Bernhard Schlink
Edições ASA, 2004
Tradução de Fátima Freire de Andrade
221 págs.

"A rapariga das laranjas" - Jostein Gaarder


Em 2002, a Editorial Presença brindou-nos com este livrinho encantador, do autor de ”O mundo de Sofia”.
Li-o em 2004 e, tal como é referido no último parágrafo, ganhei a lotaria!

O que fazer quando um pai, falecido demasiado cedo para nos lembrarmos dele, decide falar connosco através de uma carta escrita onze anos antes? E se, nessa carta, nos coloca uma questão que mude para sempre o modo como olhamos o universo e a nossa própria vida?”
 
É este o dilema de George, de quinze anos. Na “conversa” de adultos que terá com o pai encontrará a resposta.
“A rapariga das laranjas” é um hino ao amor, ao milagre da vida, à consciência da morte.
Delicado e encantador!

A rapariga das laranjas, de Jostein Gaarder
Editorial Presença, 2002
Tradução de Maria Luísa Ringstad
123 págs.

29 março, 2011

"O amor não espera à porta" - Marisa de Los Santos


“A minha vida - a minha vida a valer - começou no dia em que um certo homem deu um passo para dentro dela”.
É assim que começa esta história linda, comovente, hilariante e arrebatadora, sobre a amizade e o amor.

A autora descreve com minúcia e delicadeza a relação de uma mulher solteira, Cornelia, com uma menina de onze anos, que, abandonada pela mãe doente, anda em busca do pai. Esse pai é Martin, o homem que inesperadamente entrou para dentro da vida de Cornelia.
Juntas irão descobrir que o essencial na vida é “saber o que amamos e porquê”.
Interessante a forma como a narrativa vai sendo salpicada com referências a filmes, que todos nós conhecemos.
Gosto de ler primeiros romances. Este não me desiludiu.

O amor não espera à porta, de Marisa de los Santos
Oficina do Livro, 2008
Tradução de Fernando Villas-Boas
426 págs.

28 março, 2011

"Verão" - J.M. Coetzee


Cabe a nós próprios construir a história das nossas vidas, dentro das restrições impostas pelo mundo real, ou mesmo contra elas.
Inteligente a estrutura narrativa deste livro de J.M. Coetzee, galardoado em 2003 com o Prémio Nobel de Literatura.
Inteligente, engenhosa e original, baralha-nos a desenvoltura com que o autor se revela enquanto personagem da sua própria ficção, num exercício de auto-depreciação avassalador.
Confuso? 

O biógrafo inglês, Mr. Vicent, trabalha num livro sobre o falecido escritor John Coetzee.
O seu projecto centra-se entre 1972 e 1977, época em que Coetzee, então na casa dos 30, compartilhava com o pai viúvo uma degradada casa rural nos arredores da Cidade do Cabo.
Entrevista, então, várias pessoas: Julia, a mulher casada com quem Coetzee teve um caso e que define essa relação como uma “narrativa sem corpo”; Margot, a prima preferida, com quem ele abria o coração; Adriana, uma bailarina brasileira mãe da jovem Maria Regina a quem ele dava aulas particulares de inglês; Martin e Sophie amigos, colegas e, como ele, professores universitários.
A partir destes testemunhos chega a um retrato pouco lisonjeiro do jovem Coetzee como um indivíduo desajeitado, incapaz de se relacionar com os outros, emocionalmente reprimido, incompetente com as mulheres, um macambúzio, um atraso de vida, um desmancha-prazeres.

O que é real e o que é ficção?
O autor nasceu na Cidade do Cabo, na África do Sul, em 1940. Viveu vários anos nos Estados Unidos, regressou à África do Sul e vive, actualmente, na Austrália.
No regresso à África do Sul publica os primeiros livros, revolta-se contra o poder político e… cuida do pai viúvo e doente.
O resto descubra neste empolgante, comovente e divertido livro.

Verão, de J.M. Coetzee
D. Quixote, 2010
Tradução de J. Teixeira de Aguilar
279 págs.

"Tão veloz como o desejo" - Laura Esquivel

É da autora de “Como água para chocolate”esta belíssima história de amor, passada no México dos ano 20.

Sinopse: “Júbilo trabalha como telegrafista, ocupação que lhe permite ajudar as pessoas a revelarem o que lhes vai na alma, reescrevendo as mensagens que enviam. A felicidade plena chega quando conhece Lucha, por quem se apaixona perdidamente. Enfeitiçados um pelo outro, casam e vivem uma vida de sonho. Muitos anos passados, no seu leito de morte, sofre com a tragédia que um dia o afastou da mulher, o seu grande e único amor. Que acontecimento trágico poderá ter-se interposto entre os dois amantes, provocando um dano tão irreparável? “

Numa viagem por entre a numerologia Maia e Asteca, as novas tecnologias (dos telégrafos aos computadores) e as paixões humanas, este livrinho é o carinhoso tributo que Laura Esquivel presta ao pai que, como o personagem, trabalhou como telegrafista.

Cito algumas frases:
Demonstramos o nosso amor através de acções. E uma pessoa só se sente amada quando a outra lhe manifesta o seu amor com beijos, abraços, carícias e demonstrações de generosidade. Uma pessoa que ama procurará sempre o bem-estar físico e emocional da pessoa amada. “Depois do amor não há coisa mais importante que a confiança…. A confiança para pôr a alma a nu, para expor o corpo …. sem o menor pudor. Amor e confiança caminham de mãos dadas”.

Tão veloz como o desejo, de Laura Esquivel
Edições ASA, 2001
Tradução de Helena Pitta
128 págs.

25 março, 2011

"A louca da casa" - Rosa Montero

“Habituei-me a ordenar as recordações da minha vida através de uma relação de namorados e de livros”.
Assim começa esta obra – romance, ensaio ou autobiografia - de Rosa Montero: uma viagem através do misterioso universo da fantasia, dos sonhos, dos medos e dúvidas da criação artística e das recordações mais secretas da autora.
Num jogo narrativo pleno de surpresas a autora mistura citações de autobiografias de outros escritores com factos da sua vida, que nem sempre são o que parecem.
Na pág. 147 explica: “Quando comecei a idealizar este livro, pensava que ia ser uma espécie de ensaio sobre a literatura, sobre a narrativa, sobre o ofício dos romancistas. Planeava redigir, enfim, mais uma dessas numerosas obras tautológicas que consistem em escrever sobre a escrita. Depois, como os livros têm cada um a sua própria vida, as suas necessidades e os seus caprichos, isto foi-se transformando numa coisa diferente, ou melhor, acrescentou-se outro assunto ao projecto original: não iria tratar apenas da literatura, mas também da imaginação”.
E ainda bem, porque resultou num livro apaixonante, hilariante e muito inteligente.

A louca da casa, de Rosa Montero
Edições ASA, 2004
Tradução de Helena Pitta
171 págs.

21 março, 2011

"Cristal da pele" - José Manuel Carreira Marques

21 de Março - dia mundial da Poesia
Voltei à estante da minha filha e descobri este livro encantador.
Fechei cofres da memória
que os abro quando quero
nos desabridos nervos da melancolia
Às vezes inadvertidamente
ou quando me interrogo
para melhor me conhecer
e fecho-os quando começam a doer
São mistérios construídos de segredos
de que o tempo apaga o acessório
E deixo que as árvores cerquem a nostalgia
suavemente como sendo Outono.

CRISTAL DA PELE – poemas por dentro das mãos, de José Manuel Carreira Marques
Desenhos de Jorge Vieira
Campo dasLetras, 2008
168 págs.

"Estrela Errante" - J.M.G. Le Clézio


Estrela Errante” é a história de Esther-Hélène-Estrellita, uma jovem judia de 13 anos, que vive refugiada com a família numa aldeia italiana situada num vale imenso, onde vive uma adolescência serena, e onde descobre como é ser judeu em tempo de guerra, e da fuga para o novo estado de Israel.
Durante o verão de 1943 os judeus sobreviventes decidem partir para Israel, fugindo aos alemães que se aproximam da aldeia. Ao atravessar as grandes montanhas inóspitas, pela primeira vez Estrellita compreendeu que “não era como as pessoas da aldeia. Elas podiam ficar nas suas casas, podiam continuar a viver naquele vale, sob aquele céu, a beber a água das torrentes…. Ela tinha de seguir com os que, como ela, já não tinham casa, já não tinham direito ao mesmo céu, à mesma água”.
Vive em Paris até aos 16 anos. Deixa França em 1947 rumo à Terra Prometida. Ali encontrará o amor, ali nascerá o seu “filho do sol”, mas não encontrará a paz.
No caminho cruza-se com Nejma, uma jovem palestiniana que, em sentido contrário, deixa o seu país em direcção aos campos de refugiados. Em exílios diferentes não deixarão de pensar uma na outra e na certeza de um reencontro.
Encontrar-se-ão?
Neste romance Le Clézio glorifica as mulheres e denuncia o absurdo da guerra.

Estrela Errante, de J.M.G. le Clézio (prémio Nobel de Literatura 2008)
Dom Quixote, 2009
Tradução de Maria do Carmo Abreu
318 págs.