30 dezembro, 2010

Sumário de leituras

Li ou reli em Dezembro 2010
. O tigre branco, de Aravind Adiga
. Solar, de Ian McEwan
. Filhos de Estaline, de Owen Matthews
. O senhor das almas, de Irène Némirovsky
. O complexo de Portnoy, de Philip Roth
. Suite Francesa, de Irène Némirovsky
. Mentira, de Enrique de Hériz
. Adivinha quanto eu gosto de ti, de Sam McBratney
. A mancha humana, de Philip Roth
. Meridiano de sangue, de Cormac McCarthy

Dou nota máxima
. Filhos de Estaline, de Owen Matthews
. O tigre branco, de Aravind Adiga
. A mancha humana, de Philip Roth

06 dezembro, 2010

"O Tigre Branco" - Aravind Adiga

O Tigre Branco”, romance de estreia de Aravind Adiga, premiado com o Man Booker Prize 2008, é um retrato duro, sarcástico e mordaz do sistema social de castas na Índia.
É com muito humor negro que o protagonista/narrador, Balram Halwai, conhecido como Tigre Branco, ou, como ele se intitula “indiano mal-amanhado, empresário autodidacta, homem de acção e de mudança”, vai relatar a história da sua vida ao primeiro-ministro chinês, pouco dias antes de uma visita deste a Bangalore “para aprender como criar uns quantos empresários chineses”, dando-lhe a conhecer o segredo do sucesso da sua vida empresarial e a verdade sobre o “milagre económico” indiano, na era da globalização.
“Ao que consta, senhor, vocês os chineses, encontram-se muito adiantados em relação a nós em todos os aspectos, à excepção de não terem empresários. E a nossa nação, apesar de não ter água potável, nem electricidade, nem sistema de esgotos, nem transportes públicos, nem regras de higiene, nem disciplina, nem boas maneiras, nem pontualidade, verdade seja dita que empresários não lhe faltam. São aos milhares”.
“Se eu estivesse a construir um país, começava pelas canalizações dos esgotos, passaria depois à democracia e só então andaria por aí a distribuir panfletos e estátuas de Gandhi às pessoas”.
Balram, nado e criado na “Índia da Escuridão”, o interior miserável da Índia, não se conforma com o papel que lhe está destinado e parte em busca de uma nova vida na “Índia da Luz”. No trajecto da aldeia para a cidade trabalha numa casa de chá onde faz um “trabalho com uma desonestidade, uma falta de dedicação e uma falsidade quase absolutas” que se revelará “uma experiência profundamente enriquecedora”.
Em Deli torna-se motorista de uma família rica, comete um crime, apodera-se do dinheiro do patrão e dali em diante “a história irá tornar-se muito mais escura” – narrando como “fui corrompido e, de idiota gentil e inocente da aldeia, me transformei num indivíduo citadino a tresandar a deboche, depravação e maldade”.
Vislumbra, então, uma oportunidade de negócio. Monta uma empresa de aluguer de automóveis para transporte dos empregados das empresas de subcontratação, que à noite trabalham na Índia para os americanos através do telefone.
Tem a cabeça a prémio, suborna a polícia, sabe que “ser apanhado é sempre uma possibilidade a ter em conta” na Índia. “Podemos dar aos polícias todos os envelopes… se eles quiserem podem sempre lixar-nos”.
“Tudo o que queria era a oportunidade de ser um homem – e para isso um homicídio bastou-me. O que me reserva o futuro?”
Fabuloso!

O Tigre Branco, de Aravind Adiga
Presença, 2009
Tradução de Alice Rocha
242 págs.

"Solar" - Ian McEwan

Solar” é uma comédia sobre a fragilidade humana e um dos grandes problemas do mundo moderno – o aquecimento global.
Recorrendo com mestria ao humor e à sátira, o autor centra a acção do romance no protagonista Michael Beard (calvo, baixo, gordo, inteligente, anedótico, devastado), grande conhecedor das energias alternativas, físico galardoado com o Prémio Nobel aos trinta e poucos anos, que a partir daí se limita a viver à sombra dos louros, participando apenas em conferências, seminários e entrega de prémios.
No primeiro capítulo do livro, com 53 anos, depois de quatro casamentos falhados (nenhum durara mais de seis anos), um rol de infidelidades e total desinteresse pelo trabalho, encontra-se a braço com o colapso do quinto casamento. Só que desta vez era a mulher que o traía de forma flagrante, sem remorsos, com o empreiteiro que fizera obras em sua casa, e ele descobria, no seu íntimo, momentos intensos de vergonha e nostalgia “nenhum o tinha rebaixado tanto … provocado tamanho aumento de peso e uma tal loucura secreta…” ele que “tinha sido um mulherengo mentiroso, tivera o que merecia … que havia de fazer agora, para além de aceitar o castigo? A que deus iria apresentar as suas desculpas?” Tinha de recuperar a mulher – que agora considerava perfeita – e nunca lhe parecera tão desejável.
O confronto entre ele “cheio de refegos de banhas, fracalhote, incapaz de fazer oito elevações consecutivas” e o amante da mulher “com uma constituição de trabalhador da construção, quase vinte centímetros mais alto e vinte anos mais novo” é hilariante.
Para fugir à humilhação aceita um convite para uma expedição ao Pólo Norte. O grupo integra artistas e cientistas preocupados com as alterações climáticas. Na viagem vive uma série de situações embaraçosas e burlescas genialmente descritas pelo autor.
Regressa a casa decidido a desmantelar o cenário do seu casamento “cheio de remorsos, lamentando não saber o truque para fazer a mulher amá-lo, mas resignado”. Na sala encontra um homem no sofá, com o cabelo a pingar, de roupão vestido (o seu roupão) e não era o empreiteiro… vinte minutos depois está morto com uma pancada na cabeça. Não sabia o que fazer. Depois soube.
Nos capítulos seguintes ele continua incapaz de alterar vícios e rotinas, a ser “um pateta temerário, com hábitos muito arreigados, nem um nadinha mais sensato do que havia sido aos vinte e cinco anos, nenhumas perspectivas de melhoras” que não resiste ao plágio, que vomita a seguir a uma conferência sobre energias limpas, mulherengo, com as mesmas preocupações abstractas “o seu peso, o coração que bate com demasiada irregularidade, as tonturas quando se punha de pé, as dores nos joelhos, nos rins, no peito, o cansaço sufocante, uma mancha vermelha no pulso”, que considera como crimes contra a sua pessoa.
Sarcástico. Genial.

Solar, de Ian McEwan
Gradiva, 2010
Tradução de Ana Falcão Bastos
338 págs.

05 dezembro, 2010

"Filhos de Estaline" - Owen Matthews

“Filhos de Estaline” é o relato verídico de três gerações de amor, guerra e sobrevivência na Rússia do século XX, escrito de forma exemplar pelo filho /neto Owen Mattews.
Enquanto repórter a trabalhar em Moscovo nos anos 90, Owen Matthews descobre numa cave do antigo quartel-general da KGB em Chernigov – Ucrânia, pilhas de papel que falam sobre o percurso de vida do seu avô materno – Boris Bibikov - morto em 1937 às mãos da polícia secreta de Estaline.
Descobre, também, no sótão de uma antiga habitação dos pais em Londres, uma arca com cartas de amor escritas pelos pais (mãe russa, pai galês), cuidadosamente ordenadas por datas, no período de 1964 a 1969 que dizia: “Contém uma história de amor. Ou talvez contenha um amor inteiro”.Quando decide escrever este romance a mãe apenas lhe pede para “escrever sobre as pessoas boas” e não só “sobre o lado negro”, porque apesar das convulsões que avassalaram a Rússia “houve tanta generosidade humana, tantas pessoas sensíveis e maravilhosas”.Reconstrói, então, a passagem do avô pelo terrível mundo das purgas de Estaline, o romance dos pais em plena Guerra Fria, histórias de outros elementos da família, e as peripécias da sua actividade como jornalista na Rússia pós-soviética.
“Esta é a uma história sobre a Rússia…sobre a minha família, sobre o sítio que nos criou, que nos libertou, que nos inspirou e quase nos destruiu”.

Fabuloso!

Filhos de Estaline, de Owen Matthews
Dom Quixote, 2008
Tradução de Sónia Oliveira
339 págs.

"O Senhor das Almas" - Irène Némirovsky

O Senhor das Almas” foi publicado originalmente pouco antes da II Guerra Mundial.
A acção decorre entre as duas guerras e narra a história de Dario Asfar, russo fugido à Revolução bolchevique, refugiado em França, que adquire a nacionalidade francesa e consegue um diploma de médico.
Aos 35 anos, em Nice, vive com “a barriga vazia, os bolsos vazios, as solas rotas”. Nenhum francês o procura, só trata russos famintos.
A mulher, frágil, dá à luz uma criança e ele procura forma de garantir a subsistência da família. Aceita, então, praticar um aborto clandestino.
Antigamente “não passava de um vadio miserável, que podia mendigar, roubar… agora tinha de manter as aparências, de manter uma situação desafogada, ao preço de não importava que sacrifício, de não importava que mentira”.A seguir mergulha numa espiral de expedientes que irá alterar o seu destino.
Torna-se um charlatão, pervertendo a teoria psicanalítica em voga. Trata, exclusivamente, as doenças estranhas do sistema nervoso, que “dão lugar a mil interpretações, a mil terapêuticas”.
“É um charlatão…está em voga, agrada, não se sabe de onde vem….”,
vive deslumbrado com a ascensão social, maneja milhões, apropria-se da alma dos seus doentes.
Retrato cruel da época - da vida mundana e da ambição desmedida do ser humano.

O Senhor das Almas, de Irène Némirovsky
Dom Quixote, 2008
Tradução de Miguel Serras Pereira
231 págs.

04 dezembro, 2010

"O Complexo de Portnoy" - Philip Roth

Trata-se de um livro sobre sexo, escrito de uma forma hilariante, sem inibições nem complexos.
Ao longo de 266 páginas, de leitura compulsiva, o protagonista Alexander Portnoy (judeu, filho de uma família da classe média de Newark), num monólogo delirante confessa ao psiquiatra factos que estarão na origem dos seus “actos de exibicionismo, voyeurismo, fetichismo, auto-erotismo”, que o impelem a uma sexualidade insaciável desde a infância à idade adulta.
Spielvoge, o psiquiatra, “pensa que boa parte dos sintomas remetem para os vínculos característicos da relação mãe-filho”.
A mãe, que o trata por “meu amante” é proteccionista “estava tão profundamente implantada na minha consciência que durante o meu primeiro ano de escola eu julguei, tanto quanto me lembro, que cada uma das minhas professoras era a minha mãe disfarçada”, super-vigilante “inspeccionava as minhas contas de somar em busca de erros; em busca de buracos as minhas meias; em busca de sujidade, as minhas unhas, o meu pescoço, e cada costura e refego do meu corpo”, dominadora “ quando me porto mal, ela põe-me fora do apartamento … eu fico à porta a bater, a bater, até jurar que estou pronto a mudar de vida”.
O pai, agente de seguros “que acreditava fervorosamente naquilo que vendia”, é um homem apagado, de choro fácil, que sofre de permanente
prisão de ventre “um pai amável, ansioso, obstipado, incapaz de perceber o que quer que seja” que passa horas enfiado na casa de banho em situações descritas de forma risível.
Tem com os pais uma relação de amor-ódio.
Na adolescência masturba-se na casa de banho, na cama, no cinema, no autocarro. Simula sexo com maçãs, com meias, com fígado que depois será cozinhado pela mãe, com garrafas de leite “passei metade da minha vida desperta trancado na casa de banho, disparando os meus cartuchos … vivia num mundo de lenços de pano ou de papel amarrotados, de pijamas manchados … já lhe contei que quando fiz quinze anos tirei o coiso para fora das calças e bati uma punheta no autocarro 107 de Nova Iorque para Nova Jérsia?”.
Só se interessa por mulheres não judias, como a Macaca, que “foi a realização dos meus mais lascivos sonhos de adolescente… criatura tosca, angustiada, confusa, perdida, sem identidade” com quem vive as maiores perversões sexuais.
Mais tarde conhece Naomi , em Haifa num kibbutz junto à fronteira libanesa, “admirável, corajosa, pelo tipo físico ela é, evidentemente, a minha mãe, o mesmo temperamento, uma autêntica detectora de defeitos, uma crítica profissional da minha pessoa…. exige dos homens a perfeição”, confessa-lhe o seu amor e pede-a em casamento. Como terminará esta história?
Aos 33 anos está solteiro, para grande desgosto dos pais que continuam com os “tem-cuidado e os toma-atenção, não nos deixes sem notícias, não saias da cidade sem nos dizeres”, e a “bater punhetas, sozinho na cama em Nova Iorque”.
Critica os valores judaicos com humor, com ironia, com sarcasmo e considera-se um “tipo demasiado importante para pôr os pés numa sinagoga por um quarto de hora que seja”.
“Senhor Doutor, que nome é que dá a esta doença que eu tenho? Será o sofrimento judaico de que tantas vezes ouvi falar?”
“Sou o filho da anedota de judeus – só que não é anedota nenhuma! Esta gente é inacreditável… aqueles dois são os maiores produtores e distribuidores de culpa do nosso tempo. Conseguem-me fazer acumular culpa como uma galinha acumula gordura”.
Este retrato assombroso/hilariante/humilhante sobre a passagem da adolescência à idade adulta do judeu Alexander Portnoy chega-nos pela mão, do também judeu, Philip Roth.
Assombroso!

O Complexo de Portnoy, de Philip Roth
Dom Quixote
Tradução de Ana Luísa Faria
266 págs.

"Suite Francesa" - Irène Némirovsky

“Suite Francesa” é um retrato assombroso da França ocupada, do êxodo de 1940, e da vida quotidiana numa aldeia tomada pelo exército alemão, “desordem trágica que reuniu famílias francesas de todos os quadrantes, das mais abastadas às mais modestas”.
O manuscrito inacabado deste livro foi deixado pela autora às filhas, quando foi presa numa aldeia aonde se refugiara com a família e levada para o campo de concentração nazi de Auschwitz, de onde não voltaria.
A sua publicação só se efectuaria 60 anos depois.
Numa primeira parte retrata a fuga de Paris, “respirava-se a angústia, no ar, no silêncio”…. a preocupação com a cidade “amanhã estará em ruínas”…. mas ao mesmo tempo a indiferença “que importa….não passa de um monte de pedras… o essencial é salvar a vida”e a fuga para o campo. Era difícil suportar a “desordem … os assomos de ódio, o espectáculo repelente da guerra”, então “partiam na direcção das portas de Paris, ultrapassavam-nas, penetravam nos subúrbios, seguiam pelo campo”.
A segunda parte retrata a vida numa aldeia ocupada pelos alemães, onde os refugiados “sentiam uma vergonha desesperada e assustada à ideia de verem pela primeira vez os seus vencedores”. “As jovens olhavam-nos….as mães dos prisioneiros ou de soldados mortos na guerra apelavam à maldição divina sobre eles”. A autora revela, sem medos, uma imagem de França longe dos mitos da Resistência heróica, através de um olhar lúcido, irónico e cruel da alma humana.
Mais sobre a autora aqui.

Suite Francesa, de Irène Némirovsky
Dom Quixote, 2005
Tradução de Carlos Correia Monteiro de Oliveira
579 págs.

03 dezembro, 2010

"Mentira" - Enrique de Hériz

Um dos grandes romances espanhóis dos últimos anos, é uma história, poderosa, contada por duas mulheres: Isabel (a mãe) antropóloga especialista em ritos funerários, dada como morta na selva da Guatemala depois de esquecer a mochila com a documentação junto de um cadáver feminino, que opta por viver a mentira da sua morte; e Serena (a filha) que pesquisa e escreve histórias da família (histórias de enganos), ao mesmo tempo que lida com os irmãos e com a morte da mãe.
Isabel, ao optar por viver a própria morte sem estar morta, evita regressar a uma vida junto da família, que “se parecia cada vez menos com a vida”, a um emaranhado de enganos e mentiras, “mentiras que não podia denunciar depois de ter contribuído para a sua criação durante tantos anos com o seu silêncio”.O silêncio é às vezes uma das formas mais sofisticadas da mentira”.
Indignada por os filhos não terem esclarecido o equívoco da sua morte, aquando do reconhecimento do cadáver “supõe-se que os filhos estão geneticamente preparados para reconhecer a mãe” ,regressa, decidida a acabar com a mentira da sua morte e com o emaranhado de mentiras das vidas passadas do marido Júlio e do pai Simón, que sempre silenciou.
“Tive muito tempo para pensar …. E agora sei que calei demasiado, que muitas vezes não vos disse o que devia dizer-vos…levei tempo a voltar porque estava indignada por não terem sido capazes de reconhecer o meu corpo “.
Serena investiga o passado, detecta lapsos e procura a verdade.
“a mamã a descobrir o valor medicinal da verdade” desvendará todos os mistérios.
Gostei muito do que li - e não é mentira!


Mentira, de Enrique de Hériz
Dom Quixote, 2006
Tradução de J. Teixeira de Aguilar
505 págs.

02 dezembro, 2010

"A Mancha Humana" - Philip Roth


Retrato fabuloso da América na década de 90, terceiro volume duma trilogia sobre vidas americanas no pós-guerra, onde divergências ideológicas e princípios morais eram denunciados, num país que vivia o processo de impugnação do presidente …”Bem, seja ela o que for ele sabia-o de antemão. Ele podia topá-la. Se não é capaz de topar Monica Lewinsky, como pode topar Saddan Hussein? Isto é fundamento genuíno para impugnação".
A história do judeu Coleman Silk, professor universitário exemplar na década de 80 e início de 90, acusado de racismo e afastado após ter proferido numa aula a palavra “spooks (fantasma, espião,negro)” ao referir-se a dois alunos que não apareciam nas aulas, as consequências desastrosas para a sua vida pessoal e familiar e a sua relação secreta, aos 71 anos, com Faunia Farley, empregada de limpeza , com 34 anos “trata-se de uma mulher cuja vida tem tentado esmagá-la quase desde que ela existe… tudo o que aprendeu vem daí", é relatada por Coleman ao escritor seu vizinho Nathan Zucherman,”escreva a minha história, com os diabos…assim como é humano ter um segredo, também é humano revelá-lo, mais cedo ou mais tarde", no mesmo verão em que o segredo de Clinton se torna conhecido…”foi o verão da América em que a náusea regressou, em que as chalaças não pararam, em que a especulação, a teorização e a hipérbole não pararam… em que um demónio qualquer fora largado à solta na nação…foi o verão em que o pénis de um presidente esteve na cabeça de toda a gente e a vida, em toda a sua despudorada obscenidade, confundiu uma vez mais a América”. Mas o verdadeiro segredo de Coleman, guardado durante cinquenta anos da família, amigos, colegas e do vizinho amigo/confidente, só será deslindado após a sua morte…
Li de seguida todas as obras publicadas em Portugal.
É, sem dúvida, o meu NOBEL, o meu preferido.
Mais sobre o autor aqui.

A Mancha Hunana, de Philip Roth
Dom Quixote, 2004
Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues
377 págs.

"Meridiano de Sangue" - Cormac McCarthy

Este foi o primeiro livro que li do escritor americano Cormac McCarthy.
Romance extraordinário, baseia-se em episódios históricos verídicos ocorridos na fronteira entre os Estados Unidos e o México, em meados do séc. XIX.
De difícil mas viciante leitura, por diversas vezes fechei o livro horrorizada com tanta violência - homens que matam homens, mulheres e crianças num crescendo de violência assassina imparável.
A história gira à volta dum rapaz, que aos catorze anos foge de casa, no Tennessee, e que, 
a caminho da fronteira com o México, vai mendigar, roubar e matar, para não morrer.  
Vai cruzar-se com o juiz - homem enorme, assassino, violador, que nunca dorme e diz que nunca irá morrer, que cita os clássicos e discursa sobre a natureza humana.
Impressionante. Aterrador. Fantástico!

Mais sobre o autor aqui.

Meridiano de Sangue, de Cormac McCarthy
Tradução de Paulo Faria
Relógio de Água, 2004
390 págs.

01 dezembro, 2010

O prazer da leitura

Um livro é para mim um objecto de prazer. Através da leitura descubro outras realidades, outros mundos, acompanho outras vidas, aprendo, reaprendo, assusto-me, emociono-me, encontro a felicidade, espanto-me com a facilidade com que os escritores inventam personagens ou relatam situações verídicas.
Para mim um livro é um amigo. Está sempre lá quando é necessário. De pé, deitado, amontoado, na sala, no quarto, no escritório, na estante, na mesinha de cabeceira, no chão, enfim, nunca se queixa, esteja onde estiver.
Nos momentos mais difíceis a leitura acalma-me, alimenta-me o cérebro, afaga-me o coração, faz-me pensar.
Gosto muito de ler. Sou um pouco conservadora no que respeita a autores e tenho alguns rituais que cumpro sempre: assino e anoto a data da compra dos livros; mais, não leio sem um lápis ao lado para ir assinalando uma passagem, um pensamento, um comentário que me tocou e a que, certamente, voltarei mais tarde; mais ainda, quando descubro um novo autor e a sua leitura me entusiasma, não paro enquanto não devoro toda a sua obra; e ainda mais, não gosto de ler livros emprestados porque isso não me permite as tais anotações que tanto gosto de ir fazendo.
Não gosto de ver livros maltratados.
Gosto de aprender com aquilo que leio.
Registo os livros que leio ao longo do ano. Guardo as listagens religiosamente.
Não gosto que me ofereçam livros. O gozo da leitura inicia-se com o ritual da compra do livro.
Gosto de passear pelas livrarias. Escolho os livros em função dos autores que já conheço, de uma crítica literária que me aguçou a curiosidade ou na sequência de dicas de quem sabe do que eu gosto de ler.
Gosto de ler críticas literárias. Gosto de as ler antes de iniciar a leitura do livro e de as reler no final. Para comparar opiniões. Recorto-as e guardo-as dentro dos livros. Guardo, também, entrevistas ou notícias sobre o autor ou sobre a obra.
Normalmente não gosto de ver os livros que leio passados para o cinema. Nunca vejo o filme antes de ler o livro. Faço sempre o contrário: livro e depois filme, para investigar as adulterações. Geralmente não gosto.
Gosto de livros e revistas de culinária. Muito, muito. Acalmam-me. Em mim funcionam como uma pílula da boa disposição.
Gostava de criar um clube de leitura na zona onde vivo, para poder trocar ideias e participar em desenvoltos debates. Há anos que tento fazê-lo, mas ainda não encontrei coragem para passar a mensagem. Talvez um dia.
Não vou indicar nenhum livro como o meu favorito, nem sequer um autor. São muitos. Mais para a frente indicarei alguns.